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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Museu Britânico Ainda Vem Abaixo (O) - David Lodge

Definitivamente não vou “á bola” com David Lodge. Há tempos li a “Terapia”, livro mundialmente conhecido e reconhecido como sendo um livro hilariante e não sei que mais, mas o certo é que não dei mais de 3 estrelas e por algumas gargalhadas que me arrancou.
Neste "O Museu Britânico ainda vem abaixo”, enfim, tem menos qualidade do que “Terapia”.
A história é a seguinte:
Anos 60, um jovem casal, que segue direitinho os mandamentos do catolicismo, vive um dilema ou poderemos dizer um drama: Não consegue ter uma vida sexual feliz e agradável. E tudo porquê? Porque a igreja é contra o preservativo e outros métodos contraceptivos e, vai dai, o casal só tem relações em determinados dias e dependente da temperatura da mulher, pois há que ter a certeza que não está na fase da ovulação.
Para piorar o cenário, descobrem ou desconfiam que, depois de uma farra em casa de uns amigos e depois de chegar a casa, tiveram relações sexuais. No entanto não têm a certeza, logo e se tiveram, quer dizer que correm o perigo de ela estar novamente grávida. Resta acrescentar que já têm 3 filhos e uma hipotética gravidez iria alterar, e muito, a estabilidade familiar.
Ora bem, não pretendo escrever uma opinião longa porque simplesmente este livro não a merece, no entanto tentarei efectuar uma pequena análise ao livro.
Este livro é acima de tudo uma “boca” de Lodge às regras arcaicas do catolicismo.
Logo na introdução, o próprio Lodge vai uma breve descrição do que era a vida dos casais católicos nos anos 60, casais esses onde ele e a mulher se incluíam. Logo e embora ele desminta, parece-me que este livro é mais uma dissertação das suas angustias enquanto jovem cheio de força e pujança. A mim parece-me.
Depois e embora este seja o problema principal e aquele onde gira toda a história, ele vai descrevendo o seu dia, aliás, descreve o dia do personagem e aí, situações mais ridículas que hilariantes sucedem a um ritmo louco e, na minha óptica, algo forçado. De notar e isso foi algo que me agradou, que toda a acção se passa num só dia, um pouco ao estilo de “Ulisses” de Joyce, mas é só no estilo porque no jeito, não tem nada a ver.
E pronto, resumidamente é isso.
Eles com medo de uma gravidez indesejada, com uma vontade louca de ter sexo e não o poderem porque senão, gravidez certa. Ele no trabalho, no tal Museu Britânico, onde tem como trabalho ler livros… é verdade. E mais umas coisitas práqui, e umas coisitas práli.
Sinceramente não gostei. Na altura em que foi escrito deve ter sido mesmo um sucesso, mas nos tempos que correm, não só o estilo como os motivos, estão completamente ultrapassados, ou será que ainda algum casal, mesmo fanaticamente católico, não usa métodos contraceptivos?

domingo, 30 de setembro de 2007

Terapia - David Lodge

David Lodge, escritor inglês, é hoje em dia um autor consagrado em todo o mundo. Com mais de uma dezena de livros escritos, cria em "Terapia" uma história que tem tanto de original, filosófico, prático, satírico como de hilariante.
Por muitos considerado como o seu melhor título, em "Terapia" temos um escritor de guiões que, depois de vários falhanços como actor, acaba, um pouco por acaso, por entrar no mundo da televisão ao escrever um guião para uma sitcom chamada "Os vizinhos do lado". Baseada na sua própria família e na da sua mulher, depressa esta série alcança um enorme sucesso nacional, levando-o a juntar uma considerável fortuna que lhe permite viver à vontade e à grande. Quando começamos o livro, já ele, de seu nome Laurence Passmore, conhecido no meio televisivo por "bolinha" Passmore, está bem na vida e as suas preocupações/obsessões andam a afligi-lo de uma forma impiedosa levando-o à depressão. E são essas preocupações/obsessões que vamos acompanhando em jeito de diário escrito por ele próprio.
Quase com 60 anos, "bolinha" Passmore tem uma vida estável: tem dinheiro, um grande carro a que ele chama de "ricomóvel", casado com uma mulher ainda vistosa e que não recusa nada na cama, dois filhos já criados e com as suas vidas independentes, "bolinha" tem aparentemente uma vida doirada. No entanto muitas e variadas pancadas afectam-lhe a vida. Sente-se infeliz, tem problemas com um joelho, já tem uma careca vistosa, é gorducho e, para ajudar à festa, tem problema do foro sexual. Que fazer? Primeiro de tudo, arranja forma de se meter em variadas terapias (fisioterapia, aromaterapia, acupunctura, psicoterapia, e outras mais), no entanto, qualquer uma delas é incapaz de lhe resolver o problema e a depressão e infelicidade aumentam de dia para dia.
É então que uma outra pancada chega à sua vida. Toma contacto com a obra de Kierkegaard, e aí a sua vida ou pelo menos a sua visão dela, toma um aspecto ainda mais angustiante, que leva a que alguns dos seus conhecidos tenham algumas considerações sobre si verdadeiramente hilariantes. Mas esta nova paixão tem também o condão de lhe fazer ver a vida sob outra perspectiva e esta é uma das verdadeiras terapias do livro. De salientar que Lodge aborda de uma forma coerente e até algo profunda a filosofia de Kierkegaard, tecendo considerações sobre a sua vida e as suas obras, descrevendo mesmo a actual casa-museu do filósofo situada em Copenhague.
Mas não acaba aqui as aventuras de "bolinha", mete-se com uma colega com a qual tem uma paixão platónica (sem sexo), um vagabundo que vai a sua casa ver futebol, uma americana que o quer levar para a cama, com uma colega que ele quer levar para a cama, uma mulher que namorou na adolescência e que de repente resolve procurar, etc, etc, etc.
Um livro onde David Lodge, através de um humor corrosivo, aflora de uma forma constantemente satírica a vida de um homem que, de repente, se apercebe que está a entrar na velhice. De uma sociedade e das relações humanas onde o sexo assume um papel catalisador nessas relações, visto e sentido como um escape para "tapar" certos "buracos" que a vida acaba por fazer.
Longe de ser uma obra prima, este romance lê-se muito bem dada a ligeireza do tema, da sua fluidez linguística e da forma muito real e palpável como os assuntos são abordados. Extremamente hilariante, dada a forma ora séria ora despreocupada como o personagem vê as "coisas", este é um livro que se lê de um fôlego (li-o em três dias) sem grandes necessidades de pararmos para pensar.
Um livro divertido, que nos faz soltar grandes gargalhadas devido à forma tão "british" como o personagem aborda as questões da sua vida e as própria sociedade.
Para finalizar, queria aqui deixar esta passagem numa altura em que "bolinha" Passmore, no apogeu do seu Síndroma da Disfunção do Joelho, vai realizar a partida semanal de ténis com três amigos seus, também nada famosos fisicamente: "jogo com outros três inválidos de meia idade: o Joe, que tem problemas graves na coluna, anda sempre com um colete e mal consegue servir; o Rupert, que teve um grande acidente de carro há uns anos e coxeia de ambas as pernas, se é que é possível, e o Humphrey, que tem artrite nos pés e uma articulação da anca de plástico. Exploramos as dificuldades uns dos outros de forma impiedosa. Por exemplo, se o Joe lança a bola para mim junto à rede, atiro-a alto, porque seu que ele não consegue levantar a raqueta acima da cabeça e, se eu estou a defender junto à linha de fundo, ele troca constantemente a direcção da bola de um lado para o outro, porque sabe que não consigo deslocar-me rapidamente por causa da liga (no joelho). Ver-nos jogar é de chorar, quer por pena, quer a rir."