quarta-feira, 8 de março de 2017

Mercador de Livros Malditos (O) – Marcello Simoni



Há livros que, sinceramente, não consigo compreender o porquê de tanta consideração. Se até entendo o trabalho de divulgação da editora, pois o que a editora pretende é unicamente vender o produto, pois é disso que um livro é, não compreendo a boa crítica de simples leitores, como eu, acerca de livros que são de facto maus, e não me estou apenas e referir à história inerente, mas a todo o seu conjunto, qualidade de escrita, argumento, etc.

Este “Mercador de Livros Malditos” é um daqueles livros escrito “a martelo”, mal construído, mal escrito e com um défice de qualidade enorme.

Confesso que a sinopse despertou a minha curiosidade, porque, na mesma, é comparado a dois livros que adorei: “O Nome da Rosa” de Umberto Eco e “Pilares da Terra” de Ken Follett.

Logo aí, considero, há dois erros por parte da editora: comparar qualquer obra a livros acima referidos, faz com que a nossa exigência, a nossa expectativa fique de tal forma elevada que acaba por se tornar indissociável a constante comparação à medida que vamos lendo o livro em causa.

Mas ok, possuo também experiência suficiente para não me deixar iludir, mas, que “diabo”, também nunca esperei que este livro fosse tão fraco ao ponto de me sentir irritado à medida que o ia lendo.

Do “Nome da Rosa” e “Os Pilares da Terra” estamos assim conversados, pois não tem quase nada para comparar e o quase é porque este “Mercador” se situa de facto na época medieval e tem como pano de fundo abadias obscuras e misteriosas. Aliás se tivesse 10% da qualidade da escrita, da profundidade, mestria ou do trama, sinceramente, já me consideraria satisfeito.

A história até começa bem: conhecemos Ignázio de Toledo e desde logo criamos uma certa empatia com o personagem devido ao seu trabalho.

Com um obejctivo em mente e sob a perseguição de um vilão ao estilo de Dumas de 3ª categoria, Ignázio enceta uma jornada em busca de um livro procurado incessantemente por alguém muito poderoso e que está disposto a tudo para o possuir. No entanto é risível o que se vai passando nessa jornada, mais se assemelhando a um passeio de escuteiros num domingo do que algo importante e vital para o desenrolar do trama, pois as descrições dos encontros e desencontros, os mistérios criados, são tão caricatos e previsíveis, que dei por mim a pensar se se tratava de facto de um thriller histórico ou um livro cómico com o objecto de satirizar.

Desse modo, a partir dos primeiros capítulos e até ao fim, os acontecimentos são previsíveis, o desenrolar da acção e a forma como termina o livro apenas me veio despertar da sonolência em que caí, isso sem mencionar do facto de ter achado os capítulos tão curtos que, a meu ver, impedem que nos liguemos à história, ou seja, são capítulos tão curtos, situações tão rápidas e narradas de uma forma tão desgarrada, que quando começamos a ver, já passou…

Isso sem falar na enormidade de capítulos totalmente desnecessários que em nada contribuem para o desenrolar da acção. Sinceramente fiquei com a sensação que o primeiro esboço do livro deve ter tido uma 50 páginas (se tanto), mas e por ser demasiado pequeno, o autor teve de inventar capítulos, situações para prolongar o enredo, pois assim não seria um romance mas sim um simples conto.

De suspense, conspirações e afins, vale zero, pois é tudo tão superficial e evidente, que o livro se tornou num suplício e só o terminei porque é daqueles livros que se lê muito rápido tal a pequenez dos capítulos e de páginas em branco que acabam por contar numericamente.

Em todo o caso admito que quis entender, sem o ter conseguido, onde raio estaria a qualidade deste livro ao ponto de o ter feito receber alguns prémios literários italianos e ser considerado Fenómeno Internacional. Pois!

Porém, pasmem-se, fiquei surpreendido com o final e é por isso que julgo ter sido uma obra inicialmente muito curta, pois é notório que o autor pensou no argumento, mas faltou-lhe qualidade para saber prolongar em número de páginas um trama com principio, meio e fim minimamente coerentes.

Embora se leia bem, é um livro desinteressante, mal construído, mas onde o autor até demonstra estar na posse de conhecimentos da época em questão. No entanto, senhores das editoras: não enganem os leitores. Comparar este livro a pesos pesados como o “Nome da Rosa” ou “Pilares da Terra” é ofensivo à inteligência dos leitores e uma falta de respeito para todos, leitores e escritores.

Em todo o caso é a minha opinião que foi influenciada pela expectativa inicial, estando convicto que é um livro que agradará a muita gente.