sábado, 18 de junho de 2016

Priorado do Cifrão (O) – João Aguiar



Já tenho lido alguns livros de João Aguiar e, confesso, o meu apreço pela sua escrita, no entanto este “Priorado do Cifrão” revelou-se uma imensa decepção tal o desinteresse da história como igualmente do propósito do autor.

Aparentemente trata-se de uma sátira ao famoso best-seller de Dan Brown “Código Da Vinci”. Aqui também existe uma morte estranha num museu logo no início do livro, perseguições, uma organização secreta que pretende controlar o mundo, etc, etc, etc.

É de facto notório que o autor procurou ironizar com o contexto da obra de Dan Brown, criando um policial à portuguesa onde o principal protagonista chama-se Miguel e é nomeado responsável pela edição portuguesa do famoso best-seller "Os Documentos de Caravaggio" numa clara alusão a Da Vinci. Enfim!

Depois toda a obra é um desenrolar sem fim de situações sem sentido, sem qualquer tipo de lógica, misturando acção com sexo, tentativas de assassinato, perseguições, revelações bombásticas, tudo sem qualquer sabor e interesse, revelando-se uma leitura bastante aborrecida e comprida, pois às tantas é um suplício ler página a página o que toda aquela mistura vai dar.

Dizer que este livro é maçudo é fazer um favor ao autor.

O livro simplesmente não tem qualquer rumo, os episódios sucedem-se com poucos ou nenhuns pontos de ligação e até aqueles que poderiam desembocar em algo interessante, no final desaguam simplesmente em nada tal a imbecilidade da história.

Uma tremenda desilusão face à qualidade de outras obras que li deste autor e sinceramente não entendo com é que um livro destes é editado e não houve coragem para dizer ao escritor: “meu caro, isto é lixo, escreva aquilo que de facto sabe escrever e deixe-se de sátiras, pois ter graça é um dom natural e não se fabrica a martelo”.

Um conselho, não percam tempo da vossa vida com este livro, um dos piores livros que li até à data.


terça-feira, 7 de junho de 2016

Alentejo Prometido – Henrique Raposo

À semelhança de milhares de pessoas, Henrique Raposo é filho de alentejanos que migraram para Lisboa na década de 60 do século passado. À minha semelhança, Henrique Raposo cresceu em Lisboa considerando o Alentejo como o seu berço, o local onde poderia chamar de “casa”, esperançado que um dia poderia voltar a habitar o local que os seus antepassados abandonaram em busca de uma vida melhor e, conforme acontece inúmeras vezes, comigo inclusive, Henrique Raposo quando começou a conhecer o Alentejo sentiu uma enorme decepção.
No entanto e ao contrário de Henrique Raposo, eu fui mais longe, eu não me limitei a escrever um road movie sobre o Alentejo. Simplesmente eu vim para cá viver com a ilusão que cá a minha vida poderia melhorar. Debalde pensamento esse, aqui só encontrei decepção, não apenas com a região que muitos pintam de bela mas e sobretudo com as pessoas.

Este pequeno livro, chamemos-lhe então Road Movie, nasce da pretensão do autor, jornalista, em conhecer e descrever o Alentejo. É um pequeno livro (pouco mais de 100 páginas), onde o autor vai traçando um contexto socio económico e histórico de toda a região, analisando igualmente o comportamento das suas gentes. 
Para quem não conhece o Alentejo, poderá julgar que o autor exagera ou tem a intenção de “dizer mal”, mas nada disso, o autor simplesmente fala a PURA VERDADE, nua e crua, verdade essa que muitos iluminados e puristas não gostam de ouvir.

E o autor como não mora aqui, desconhece outros pormenores: Na sua generalidade, os alentejanos, são invejosos, maldosos, maldizentes, falsos e desconhecem o que é "ter palavra". Ou seja, jamais dizem olhos nos olhos o que pensam, preferindo antes dizer mal assim que a pessoa vira costas. Para além disso, a mentira é algo que estão tão enraizada, que mentir é como uma segunda pele:  “estava a mangar”. Palavra dada é algo que não é tida como sagrada. Aqui combinar algo não é visto como tido e garantido. Marca-se uma hora e nem sequer aparecem nem se dignam a avisar. É normal! E a violência familiar toma proporções como eu nunca vi e senti em Lisboa. Aqui é normalíssimo a mulher “apanhar” do marido e as pessoas vêm isso como normal e nem se metem.
O autor escreve: “um olhar desconfiado, austero e antigo…”; “… nunca nos sentimos bem acolhidos. Pedimos, comemos, pagámos, sorrimos e dissemos adeus, mas a rapariga do café nunca abriu o sorriso. De onde virá essa antipatia sulista partilhada por alentejanos e algarvios?”. NA MUCHE! Nós aqui só nos sentimos algo bem acolhidos quando as pessoas nos começam a considerar habitantes de cá, de resto não passamos de turistas lisboetas.

O autor fala assim que o alentejano é desconfiado, que desconfia de tudo e todos? É a pura verdade!
Fala da normalização do abuso sexual, consubstanciado em expressões típicas que é comum ouvirmos em qualquer local? É verdade!
Eu acho engraçado muitos defenderem o Alentejo com unhas e dentes, criando grupos nas redes sociais como “Meu querido Alentejo”, “Alentejo da Minha Alma”, etc. Oh amor tão lindo, mas o curioso é que são pessoas que não vivem no Alentejo, vivem bem longe. Costumo dizer: “se é tão bom porque não vivem aqui?”. Querias!

Em todo o caso o autor passa um pano por cima de todas essas “acusações” ao referir razões históricas que explica a posse desconfiada e a antipatia deste povo, assim como encontra razões históricas para explicar a enormíssima taxa de suicídio e a forma como esse fenómeno é visto na região, como algo normal.
Não gostam os mais puritanos que se entretêm com cantorias pacóvias (parece um concerto de zombies) demonstrando a sua maldade congénita. Temos pena, mas este livro fala apenas a verdade e o autor até diz pouco daquilo que eu pessoalmente conheço e já senti na pele.

E agora podem-me excomungar! Falsos!