terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balanço Pessoal de 2013

Há muitos anos que não lia tão pouco livros como em 2013. Razões são várias, mas as principais foram porque, para além de ter lido livros com muitas páginas (pelo menos dez deles tinham mais de quinhentas páginas e cheguei a ler dois livros que excediam as mil páginas), confesso que foram muito os livros que deixei ainda antes de ter atingido as cem páginas, livros esses que, obviamente, não contabilizo.

Livros Lidos: 41
Páginas lidas: 16892   
Média diária (páginas): 46 
Média Livros mês: 3,4
Média Página/Livro: 412

Em todo o caso li alguns bons livros mas confesso que tive dificuldade em selecionar dez que merecessem constar num top, pelo que me decidi a fazer um top de apenas cinco livros, ei-lo:









O Mais Prazeroso: - "Os Anjos Morrem das NossasFeridas” e “Diz-me Quem Sou

Conforme referi no início da minha opinião do “Os Anjos Morrem das Nossas Feridas”, é sempre um bálsamo, uma bênção de puro deleite literário os livros de Yasmina. Descobri este autor em 2012 e, desde essa altura, já li vários dos seus títulos e há outros ainda por ler. É sempre uma alegria voltar a esse autor e foi o que sucedeu com este título que, considero, a melhor leitura de 2013.

“Diz-me Quem Sou” foi o primeiro romance histórico de Júlia Navarro e também o primeiro título que li desta autora. Fiquei muito surpreendido pela qualidade da sua escrita e pelo trama desenvolvido. Pese embora não seja uma obra extraordinária, li as suas mais de mil páginas num ápice e fiquei deveras agradado com as histórias que a autora me foi dando.

  
Mais Divertido: - "Cordeiro, Evangelho de Biff"

Este é um livro algo apatetado mas que, aqui e ali, vai falando sério. A premissa é a infância de Jesus Cristo e a sua vida é-nos narrada pelo suposto melhor amigo de Jesus, Biff, e a narrativa tem períodos de paródia que, de facto, nos leva às lágrimas de tanto rir. Num tom hilariante, o autor traça-nos os primeiros anos de Jesus e os milagres que já fazia, no entanto cai muitas vezes num absurdo algo aborrecido, mas que não deslustra toda a narrativa.




Trabalho a Ler: -  "Segunda Guerra Mundial"

Este foi um livro que me demorou cerca de três meses a ler. Martin Gilbert faz um trabalho notável, traçando-nos passo-a-passo e de uma forma muito minuciosa, a guerra desde o seu início até ao seu epílogo e os anos consequentes. Foi também um livro cansativo face às imensas descrições de atrocidades cometidas por todos os lados. Muitas vezes parei porque não tinha estomago para continuar e vivi dias, acreditem, atormentado por tanta bestialidade humana.

  


Decepção: - "Grandes Esperanças"

Já li muitas obras de Charles Dickens e confesso a minha imensa admiração pelo autor e pelas suas obras. No entanto “Grandes Esperanças” revelou-se um tormento, sobretudo a segunda parte, tal o aborrecimento que me foi provocando. Pessoalmente este é o livro mais desinteressante de Dickens e aquele, que de certeza, jamais vou voltar.



Não consegui acabar: -  "O Hobbit" de Tolkien

Foram muitos os livros que iniciei e que nem à página cem consegui chegar, no entanto tentei, juro que tentei com todas as minhas forças ler o Hobbit de Tolkien, até porque o queria colocar no desafio Book Bingo, mas, debalde, não consegui nem consigo ler fantasia. Tinha jurado a mim mesmo nunca mais ler qualquer livro de fantasia e, uma vez mais, vi que não vale a pena, pois não consigo inserir-me naqueles universos e o enfado é tão grande que sou capaz de ler dez páginas sem me lembrar sequer do parágrafo anterior. Respeito quem elege a fantasia como o seu género preferido, mas eu não consigo achar o mínimo interesse.




O Pior: "O Fenómeno Ovni - Factos, Fantasia e Desinformação"

Já li muita literatura sobre ovnis e seres extraterrestres a ponto de eu próprio ter uma tese sobre a hipotética vida, inteligente, fora do planeta Terra. Este foi apenas mais um. Cheio de histórias conhecidas, com as habituais fotos difusas, foi um livro sem chama e que não trouxe rigorosamente nada de novo a este fenómeno. Aliás, é uma espécie de livro que mais parece um conjunto de artigos tirados da internet e ali colocados.

  

A Revelação:

Para mim, Júlia Navarro. Nunca tinha lido nada dela e gostei bastante do estilo em “Diz-me Quem Sou”. Fico a aguardar o novo romance histórico que já saiu em Espanha e que aqui deve estar por dias.


Um Bom Ano a todos!


domingo, 29 de dezembro de 2013

Cerco de Leninegrado (O) – Michael Jones

Iniciei o ano de 2013 a ler sobre a 2ª Guerra Mundial e acabo o ano a ler sobre um dos piores e mais terríveis episódios deste conflito: O cerco de Leninegrado.

Aquando da leitura da obra de Martin Gilbert, um dado sobressaiu: de todos os países envolvidos no conflito, a União Soviética foi aquele que mais perdas humanas teves. Entre civis e militares calcula-se que morreram vinte milhões de pessoas!

Nesta presente obra, esta evidência ressalta com toda a força e percebemos também a causa de tanto morticínio. O autor refere, por variadíssimas vezes que muitos factos só foram conhecidos publicamente após o fim da União Soviética e que muitos dados ainda estão por conhecer. Ou seja, é claro que muitas dessas vitimas se deveram a incúria de políticos e chefias militares que demonstraram uma total desprezo pela vida humana. São aqui relatados, não só as causas que colocaram à frente do exército chefias vaidosas e incompetentes, como também da instabilidade dos seus líderes, inclusivamente Estaline, que não só mandavam os soldados para a morte como também foram um dos grandes responsáveis pelo cerco de Leninegrado.

E é assustador o que este livro revela, mais assustador quando sabemos que o que aconteceu pode vir a acontecer outra vez, pois a essência do Ser Humano é maldosa e a História repete-se vezes sem conta, pois este cerco pode ser a que melhor está documentado, mas não é caso único na História onde uma força sitiadora tenta conquistar pela fome uma cidade.

Durante 872 dias (entre 1941 e 1944) as forças alemãs sitiaram a cidade condenando à fome milhões de civis. Foi uma atitude propositada, os próprios soldados alemães tinham disso consciência e há inúmeras provas que o atestam.  E é baseado em relatos dos próprios sitiados, a maioria escritos em diários agora em exposição num museu dedicado ao cerco, que o autor vai construindo um cenário monstruoso e terrífico do quotidiano dos cidadãos e pelo que passaram.

Confesso que em muitas alturas tive de parar de ler tal a agonia que me metia. Casos de canibalismo de virar o estomago são narrados de uma forma crua, tornando este episódio ainda mais brutal, pois num conflito armado até podemos perceber os combates, mas é inimaginável conceber a angústia da fome ao ponto de fazer seres humanos matar outros para os comerem. De bandos de canibais organizados que fomentaram mercados negros de carne humana e isso com o beneplácito indirecto dos dirigentes da própria cidade. Declaradamente foram 1.400 pessoas presas por actos de canibalismo e 300 executadas, no entanto facilmente se percebe que foram muito, mas mesmo muitos mais casos, assustadoramente muitos mais.

Não conhecia esse lado, propositadamente escondido da opinião pública e que inclusive Martin Gilbert omite, não sei se propositadamente ou não, na sua obra “Segunda Guerra Mundial”, mas confesso que foi o aspecto que mais me enojou mas que acabou por não me surpreender, pois e, repito, a História está cheia de factos desses.

Um livro brutal que revela, uma vez mais, a essência do Ser Humano e do que o mesmo é capaz de fazer ao seu congénere (para o bem e para o mal), no entanto é uma obra que revela também a enorme capacidade de resistência e de adaptação que o Ser Humano revela quando confrontado com situações extremas.

Uma leitura perturbadora, nada aconselhável a estômagos fracos.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Há dias comecei a colectar as minhas leituras de 2013

para poder efectuar o último post do ano onde, mais para mim mesmo, refiro o número de livros que li, total páginas, etc e cheguei à conclusão que nunca li tão pouco como este ano.

Independentemente de alguns motivos intrínsecos, dei por mim ou dou por mim com pouca ou nenhuma razão motivacional para pegar em qualquer livro e, quando o faço, em numerosas ocasiões custa-me avançar tal o desinteresse que o mesmo me motiva.

A razão principal é a falta de qualidade dos livros que me chegam às mãos. Mesmo tendo acabado com as parcerias há mais de um ano, são ainda dezenas de livros que me foram enviados por diversas editoras que tenho em fila de espera e, parece-me, que por lá vão continuar, pois por ocasião da escolha do próximo, dou uma leitura pelas sinopses e o entusiamo é nulo.

Outras das razões é que, hoje em dia, poucos são os escritores que me entusiasmam, poucos são aqueles que me motivam a comprar assim que editam (este ano comprei apenas três livros, algo impressionante), logo e espremendo todo o ano, há apenas dois ou três livros em que isso aconteceu e aí, de facto, foram leituras prazerosas.

Este ano, pese embora o número de posts estejam dentro da média, foi também o ano em que menos tempo dediquei ao blog e à leitura de outros blogues. Sem referir nenhum em especial, até porque continuo a admirar um rol deles e as pessoas que estão por detrás, mas confesso que há muito tempo acho a blogosfera literária aborrecida, repetitiva, focada mais na promoção de editoras e pouco na elaboração de textos opinativos de qualidade que me despertem a curiosidade para alguma obra literária. Não lhes aponto o dedo, nem sequer acho que tenho o direito de achar o que quer que seja, mas é impressionante a quantidade de blogues que se limitam praticamente a “vomitar” passatempos e notícias de editoras, sem que tenham opiniões, ou então aquelas que elaboram, são fracas, praticamente sinopses melhoradas que denotam pouco conhecimento do que leram e até mesmo criando-me a dúvida se de facto leram mesmo o(s) livro(s). Ou seja, são blogues desinteressantes, aborrecidos, que estão apenas ao serviço de um conjunto de editoras que pretendem publicidade constante e gratuita. Mas enfim, isso é algo que eu já expressei em alguns locais e a tendência é até para isso aumentar.

Iniciei este blog em Junho de 2007, são mais de seis anos e, confesso, que há bastante tempo me passa pela cabeça fechá-lo, pois e como tudo na vida, tudo tem um fim e a apetência para escrever cada vez é menor, cada vez a satisfação é mais reduzida e acredito que isso se sinta nas próprias opiniões que escrevo. Longe vão os tempos onde escrever uma opinião me levava horas, lia e revia o que escrevia, voltava atrás, muitas vezes mandava fora e escrevia de novo. Agora, conforme está a acontecer com este texto, é tudo de enfiada, sem grandes preocupações estéticas ou de salientar “isto” ou “aquilo”. Escrevo praticamente após o término da leitura e sobre o que penso. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Um bom natal!

Independentemente da crise que assolam alguns, deixo aqui os meus sinceros votos a todos os amigos e amigas que me acompanharam ao longo do ano.

Bem haja e muita saúde!


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Herói - Crónicas de Starbuck (IV) - Bernard Cornwell

Neste 4º volume das Crónicas de Starbuck, Bernard Cornwell continua na senda de Nathaniel Starbuck, jovem nortista que combate na guerra civil americana pelo lado dos rebeldes.

E, quanto a mim, é o livro mais brutal dos quatro.

As peripécias de Nate levam-no ao comando de um batalhão denominado “pernas amarelas”, nome pejorativo que simboliza a cobardia demonstrada por esse batalhão numa batalha anterior. Para além do enorme trabalho que vai ter em educar e motivar esses homens, vai-se deparar com oficiais pouco ou nada interessados em combater e mais em ganhar com a guerra.

No entanto, e obviamente, Nate lá consegue educar esse batalhão e apresenta-se na famosa batalha de Antietam e é a descrição dessa terrível batalha, onde pereceram num só dia mais de 23.000 homens, que Cornwell se ocupa durante dezenas de páginas, descrevendo-a de uma forma viva e intensa, descrevendo situações brutais e as condições onde milhares de homens combateram a pé e em muitos casos corpo a corpo.

Pessoalmente o livro valeu por isso. Já tinha ouvido falar dessa batalha que tem algumas cenas horripilantes no filme de 1989, Glory (http://www.youtube.com/watch?v=4Ix61Fn_3Es), e de facto são cenas brutais, mas Cornwell intensifica, ou se quisermos, dá-nos uma ideia clara da natureza e da realidade dessa batalha e, enfim, deixa-nos a pensar na imensa coragem daqueles homens.

Lamento que Bernard Cornwell não tenha continuado esta saga. Ele afirma que tem planos para continuar, No entanto este 4º volume já tem vários anos e não me parece que a vá continuar nos próximos tempos. Em todo o caso vale a pena ler estes 4 volumes.

Achei este brilhante documentário que retracta muito bem a brutalidade desta batalha: http://www.youtube.com/watch?v=NG0Jg3sulls

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Anjos Morrem das Nossas Feridas (Os) – Yasmina Khadra

Um livro maravilhoso!

Cada livro que leio de Yasmina é, para mim, um bálsamo, uma bênção de puro deleite literário, um fascínio face à arte que é a sua escrita, um eterno gozo que me faz ler, saborear o livro muito devagar, pois eu não o leio, aprecio, degusto frase a frase, letra a letra, como, presentemente, não o faço com mais nenhum autor.

Neste seu mais recente romance, Yasmina situa, conforme aconteceu com os outros que li, na sua Argélia e a acção, inicia-se nos primeiros anos da década de 20 do século XX logo após o final da Grande Guerra. Logo aí, Yasmina aborda o tema dos antigos combatentes que, após regressarem das trincheiras, se depararam com um país que não lhes dá mérito pelo que passaram e, mais grave, pelos traumas que trazem e que os reduzem a sombras dos homens que antes foram.

No entanto, é o percurso obstinado de um jovem que marca toda a narrativa. Turambo, nome de guerra, criança com pai ausente, que se vê, á força dos seus punhos, envolvido no mundo do boxe que o catapulta para a fama e o que, de melhor e pior, daí advém.

No entanto Turambo, no alto das suas virtudes, é um ser humano com altos princípios morais e são esses princípios que estão por detrás da sua queda. É a sua história que, pela sua voz, que nos propomos a ler, e a viagem é belíssima.

E é impossível ficar-se impassível pela narrativa. Indepentemente das condições políticas, religiosas e raciais que Yasmina nos vai situando, na minha opinião, o que marca o livro são as fortíssimas frases que nos assaltam quase folha a folha. São imensas citações que poderia aqui colocar, frases reflectivas que mexem com o nosso ser, que nos fazem meditar na vida e no que aqui andamos a fazer.

Uma narrativa intensa, maravilhosamente trabalhada e que é, para já, a melhor deste ano.

sábado, 30 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Inimigo – Crónicas de Starbuck (III) - Bernard Cornwell

Neste 3º volume, Bernard Cornwell continua-nos a descrever a Guerra de Secessão (1861-1865) e a movimentação do exército confederado do Sul e do exército dos Estados Unidos do Norte e a devastação que ambos provocam um no outro.


Situando-nos no Verão de 1862 e no típico estilo de Cornwell, que muito admiro, o autor vai-nos narrando o dia a dia dos dois exércitos e sobretudo de Nathaniel Starbuck que combate pelo Sul. Cheio de intrigas e de situações verdadeiramente horripilantes, são aqui referidas situações reais de uma guerra civil que abalou os fundamentos dos Estados Unidos da América, situações brutais de uma violência inolvidável que colocou irmão contra irmão, pai contra filho.


E o autor é exímio na forma como dirige a narrativa.


Nathaniel Starbuck serve como referência, o habitual herói que “vira” grande guerreiro e que a tudo sobrevive, vivenciando factos violentíssimos, muito bem descritos e de uma realidade que nunca me deixa de surpreender.


Os relatos das batalhas são assim vivos, intensos e muito reais. Os gritos dos homens confundem-se com as explosões e o som cavo das balas a perfurar a carne. Os cheiros a pólvora misturam-se com os cheiros de corpos de homens e animais em decomposição, e os actos de heroísmo e de loucura se misturam numa confusa imagem que nos dão uma verdadeira perspectiva das batalhas. Muito interessante também a forma como o autor nos vai situando acerca do modo de vida dos soldados. Nas batalhas são muitas as descrições do processo de carregamentos dos rifles, no entanto o que mais admirei foi a descrição das precárias condições em que viviam os soldados. Homens que roubavam roupa e botas dos mortos para substituir pelas suas que ou estavam completamente rotas ou sem sequer existiam, a comida que era má e insuficiente e uma constante luta pela sobrevivência.


Em todo o caso gostei mais do anterior volume.


Neste volume actual a acção passa-se sempre por detrás das linhas, ou do Sul ou do Norte, o autor vai-nos dando as duas perspectivas, e vamos assistindo à ascensão de Nathaniel na escala hierárquica do batalhão. A meu ver falta neste volume o condimento de suspense que tão bem foi explorado no anterior volume quando Nathaniel Starbuck teve de se deslocar para as linhas do Norte. Aí ficámos sempre na expectativa que podia ser descoberto a qualquer momento, enquanto que neste actual volume é centrado quase em exclusivo nas várias batalhas.


Em todo o caso gostei bastante e fico expectante para a continuação das aventuras de Nathaniel Starbuck que, como o volume “Herói” tem o seu 4º e último volume até à data, pois Cornwell, pelo que sei, deixou esta série pendente, um pouco ao estilo do seu Sharpe.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

E eis que soube

hoje que vai ser editado o novo livro de Yasmina Khadra.

Poucos autores me entusiasmam actualmente como Yasmina me entusiasma.

Oba!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Thibault (Os) – Roger Martin du Gard

“Os Thibault”, obra grande de Roger Martin du Gard e um dos meus grandes objectivos literários para 2013, cumprido ao longo de quase dois meses.

Escrito entre 1922 e 1940, este é um dos clássicos que há muito fazia tenção de ler. Adquirida num alfarrabista há vários anos atrás, numa edição velhinha da Livros do Brasil e dividida em três volumes, tentei, desde essa altura, ler esta obra por duas vezes (a última há 3 anos), sendo que acabei sempre por desistir antes de atingir a página 200 do 1º volume. Mas, desta vez fiz “tripas, coração” e resolvi forçar a leitura da obra (algo que muito raramente faço), mesmo em períodos de longos bocejos e até intercalando com outros livros, mas acabei por conseguir e, no fim, posso dizer que gostei mas que está longe de ser daquelas obras que me deixa saudades, daquelas obras que penso um dia reler. Li, analisei a obra durante a sua leitura, deliciei-me com certos diálogos fenomenais, apaixonei-me por alguns, poucos, personagens, mas pouco me deu enquanto obra de referência, exceptuando uma soberba análise do antes e durante a Primeira Grande Guerra.

Dividido entre duas famílias, Du Gard desenha-nos o panorama de uma micro sociedade burguesa clerical e protestante. De um lado a família Thibault chefiada pelo seu opressivo pai  que procura criar os filhos com mão de ferro, do outro a família Fontanin, protestante, mais livre e cujas relações pessoais são menos formais.

É entre estas duas famílias que o romance é desenhado, saltando de família em família, de personagem em personagem, delineando os seus carácteres tão diferentes mas que nos vão dar uma imagem da sociedade francesa da primeira década do séc. XX.

Durante essa fase e embora possa admitir algum interesse, perguntava-me a mim próprio que interesse teria eu em ler sobre essas relações pessoais. O percurso de Jacques e Daniel é muito interessante. Duas crianças rebeldes que fogem às famílias e que acabam pela sanção de uma delas enquanto a outra é recebida com carinho, é algo que vai ter alguma repercussão no futuro, sobretudo no que respeita ao mais rebelde. Depois temos Antoine, jovem médico, ateu e com um feitio completamente diferente do irmão, o personagem que mais me cativou, aquele que mais me deslumbrou com as suas teses, aliás uma das grandes características deste livro são as muitas mensagens simbólicas que, à época, fazia todo o sentido.

Actualmente, e embora muitas das teses sejam perfeitamente actuais, o romance perde interesse em diversos momentos, caindo numa monotonia sonolenta sem que entendamos bem qual o objectivo do autor, não digo que os “caminhos” seguidos não dêm em nada, mas fiquei com a sensação de que o caminho traçado não teve grande significado objectivo, uma espécie de alguma palha. São alguns os exemplos que são explanados nas mais de 1500 páginas, no entanto a minha percepção da obra mudou no último terço do terceiro volume. Somos assaltados por uma guerra brutal e pela constatação de uma realidade que vai matar o sonho a milhões de seres humanos em tudo o mundo. Confesso que fiquei fascinado com esta fase e, sobretudo, com a enorme qualidade da escrita de Du Gard, esta qualidade que, diga-se, abrange toda a obra. Belíssimos diálogos, dissertações que nos fazem meditar na essência do Ser Humano e no desenrolar da sua História, fabulosas meditações que marcam esta obra, que ditam o destino, não só dos personagens, como da própria civilização.

Uma obra que valeu o Nobel a Martin Du Gard e que merecia uma reedição de uma editora, em vez de tanta obra de qualidade duvidosa que expelem mensalmente.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Citações (IV)

Se vissem as coisas tal como elas são… se compreendessem, de uma vez, que o homem é uma besta imunda e que nada há a fazer… todo o regime social está fatalmente condenado a reflectir o que há de irremediavelmente mau na natureza humana…

In "Os Thibault, Roger Martin du Gard"

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Traidor – Bernard Cornwell

Traidor é o segundo volume das Crónicas de Nathaniel Starbuck, uma série que Bernard Cornwell “pega” de vez em quando e que descreve a Guerra Civil Americana. Não tendo apreciado por aí além o primeiro volume,  este 2º volume já me senti transportando para o melhor estilo de Bernard Cornwell que muito admiro, criando toda uma narrativa brutal e cheia de aventuras.

Nathaniel Starbuck, capitão da Companhia K dos Confederados, vê-se numa luta pela sua idoneidade e, como forma de salvar a sua honra, empreende uma viagem às linhas do exército do Norte onde irá encontrar o seu beato irmão e todo um conjunto de lendárias personagens. Em toda esta aventura, cheia de situações violentas, Nathaniel assumirá a sua vontade de lutar por uma causa que abraçou por mero acaso mas que, agora, tem como sua.

Baseado em factos reais, Bernard Cornwell, com este segundo volume, traz-nos de volta um registo à sua imagem: violento, brutal, cheio de descrições de batalhas minuciosas onde os factos são escalpelizados, “Traidor” é um livro que simplesmente adorei, mais um a juntar a enormíssimo leque das obras de Bernard Cornwell.

Situado em 1862 e narrando os acontecimentos da Guerra Civil Americana, o autor cria um romance histórico baseado em factos e personagens reais. Os acontecimentos não são inventados. Nathaniel Starbuck é um personagem que serve para criar o contexto, no entanto a maioria dos personagens são reais assim como os acontecimentos. A batalha de Ball’s Bluff que resultou numa enorme derrota para o Norte, as intrigas políticas e militares e até pequenos pormenores que tiveram influência no desenrolar do sangrento conflito, são aqui referidos de uma forma excitante e meticulosa, dando uma visão clara do rumo da guerra e da sua brutalidade.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vendidos menos 470 mil livros que em 2012

Segundo notícia que li hoje, este ano há uma quebra de 5% nas vendas de livros que não se reflete na receita (quebra de 1%), sinal que os preços dos livros, em vez de baixarem, subiram.

Pois é, e depois é ver os principais intervenientes, autores e editoras, assobiarem para o ar como se a crise fosse ilusão e ainda se dão ao luxo de editar uma obra em dois ou três volumes.

Pessoalmente, este ano, apenas comprei dois (2) livros nas livrarias e mesmo assim aproveitando descontos.

Benditos sites de anúncios classificados...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Passatempo Natal

Embora nada tenha a ver com literatura, quem me conhece, sabe que há algum tempo produzo sabonetes, pelo que vou utilizar este meu espaço literário para divulgar um passatempo que estou a realizar através do facebook.


1º PASSATEMPO DE NATAL

Querem ganhar este lindíssimo cesto de 3 sabonetes de glicerina totalmente artesanal?

Participem, é fácil!

Só têm de efectuares 4 passos. 


Podem ver como, AQUI.

Obrigado!


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Carta de despedida de Gabriel García Marquéz

No ano passado, Jaime García Marquéz, irmão do autor, anunciou ao Mundo que o escritor sofria de uma demência senil. Em jeito de despedida, o Nobel escreveu uma carta.


"Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e disfrutaria de um bom gelado de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jorgar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saisse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.

Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer.”

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Jogada Ilegal – Luís Aguilar

Sou um apreciador do denominado desporto rei, não daqueles que vêm todos os jogos que passam na tv, mas confesso que gosto de assistir a uma boa partida de futebol e nunca perco as maiores competições de clubes e de selecções, sendo a principal, o Campeonato do Mundo que é organizado de quatro em quatro anos.

“Jogada Ilegal” é um livro que se propõe a narrar as muitas jogadas de bastidores e dúbios interesses que orlam em volta das organizações dos Campeonatos dos Mundo pela FIFA.

Assente em variadíssimos documentos que nos são mostrados nas últimas páginas, o jornalista Luís Aguilar deixa antever um mundo monstruoso de corrupção, jogadas de interesses e influências em busca do poder. O objectivo visa o poder e o dinheiro que a FIFA gere. Sendo a segunda maior competição desportiva do planeta, o campeonato do mundo de futebol gera biliões em parcerias, direitos televisivos e outros, que são distribuídos de uma forma pouco clara. Em torno da instituição, gravitam diversos personagens que são mais influentes que qualquer líder político, e isso leva-nos aos jogos de bastidores que se sucedem a fim de chegar aos lugares de dirigentes, não só da FIFA, como também das confederações continentais onde poerão manipular as nações dos seus continentes.

No centro do tufão estão nomes como Blatter ou Platini, como chegaram ao poder, quais as suas ligações e como se têm movimentado neste universo que pouco ou nada tem de ético.

São aqui referidos vários episódios que têm manchado a reputação da FIFA. Casos como os da votação para a Bola de Outro de melhor treinador 2012, as candidaturas para os mundiais e a forma obscura como o Qatar vence, as ligações nada inocentes que daí advêm (ver quem comprou e investiu no Paris S.G.), etc, etc.

Centrado apenas e só na FIFA, tive a oportunidade de falar com o autor na apresentação do livro e, como apreciador de futebol, dei-lhe os parabéns pela coragem demonstrada e pedi-lhe que não perca o ritmo e que se proponha a fazer um livro deste estilo mas sobre o futebol português. São quase 30 anos de sistema que tem destruído o futebol em Portugal sem que haja alguém de coragem que investigue a sério. Os indícios são maiores do que os observados na FIFA, basta dar um pulinho ao youtube e pesquisar um pouco ou então continuar pela net e perder um tempinho para dar de caras com situações nada normais que grassam desde finais dos anos 80 do século passado.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Anatomia do Segredo – Leslie Silbert

Eis que estamos na presença de mais um thriller histórico em que alguém descobre algo tenebroso do passado que vai ter ligações ou mexer com interesses poderosos do presente.

Mais um igual a tantos outros que nos últimos anos pululam nas livrarias. Interessante de início, não digo que não, vai perdendo fulgor e interesse à medida que avançamos na acção entre o presente e o passado, acabando por descambar numa série de clichés e na descoberta do previsível criminoso.

Não escondo que gostei do trama histórico, ou seja, quando a autora construiu um trama utilizando personagens reais da Inglaterra do séc. XVI, no entanto centra-se, na minha opinião, demasiadamente na teia de espionagem deixando para trás todos os outros aspectos que podiam fazer deste romance algo de diferente. Personagens fascinantes como Christopher Marlowe, Francis Walsingham, Walter Raleigh. Robert Cecil e mesmo a rainha Isabel I, surgem aqui com toda a sua influência mas são pouco ou nada explorados, sobrando apenas as suas dúbias contribuições na espionagem.

Enfim, mas um romancezeco que entreteve mas que me ensinou pouco e despertou quase nada para outras questões relacionadas com a época abordada.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Guerreiros Medievais Portugueses - Miguel Gomes Martins

Sendo a Época Medieval aquela que, historicamente, mais me fascina, foi com bastante entusiasmo que empreendi a leitura da obra “Guerreiros Medievais Portugueses” de Miguel Gomes Martins, historiador e autor de outro livro que muito me agradou: “De Ourique a Aljubarrota”.

Abrangendo toda essa época, mais concretamente de 1130 a 1449, são aqui biografados, de uma forma que até considero minuciosa dada a escassez de muitos dados das suas vidas, treze personagens que tiveram um papel importante e fundamental da edificação e manutenção da nossa nação.

Homens como Geraldo, o sem pavor; Gualdim Pais; D. Fernando, senhor de Serpa; Martim Gil de Soverosa; D. Paio Peres Correia; Afonso Peres Farinha; Infante D. Afonso, senhor de Portalegre; Álvaro Gonçalves Pereira; Estêvão Vasques Filipe; Nuno Álvares Pereira; Gonçalo Vasques Coutinho; Antão Vasques e Álvaro Vaz de Almada, têm a vida escalpelizada, dentro das fontes disponíveis, sendo que em várias partes da sua vida o autor tem de se socorrer de pressupostos lógicos de acordo com ligações com outros personagens.

E é impressionante percebermos o quanto audaciosos e aventureiros foram esses homens. Honestamente impressionou-me a obra da maioria deles. Homens que colocavam o seu Rei e o reino acima dos seus interesses, pese embora tenham sempre beneficiado financeiramente com a sua acção, que levaram uma vida cheia de perigos, constantemente metidos nos jogos políticos da corte, comandando centenas de homens e dando porrada nos castelhanos. Grandes Homens!

No entanto o livro sabe a pouco. Gostaria de ter lido mais sobre diversos personagens. Recordo-me de Nuno Álvares Pereira, o personagem que mais apreciei e aquele que, considero, foi um dos Maiores Portugueses de Sempre. Impressionante a influência que ganhou junto de D. João I ao ponto de possuir um enorme exército particular e de se ter dado ao luxo de recusar pedidos de ajuda do rei. Era temido, há episódios de os castelhanos recuarem e abandonar mesmo o campo de batalha assim que sabem que quem estava a comandar a hoste portuguesa era Nuno Álvares Pereira. Foi ele o maior responsável pela vitória em Aljubarrota e saiu vitorioso em outras grandes e violentas batalhas.

E violência sobressai de toda a obra. Foram de factos anos de enorme violência. A justiça cometia-se com as próprias mãos e as quezílias resolviam-se no campo de batalha. Numa época de conquistas aos mouros, tínhamos os castelhanos que, de vez em quando, invadiam Portugal e lá se sucedia nova e violenta batalha com mortos para ambos os lados. Essas batalhas são aqui referidas, algumas mais pormenorizadas que outras, mas deixando sempre clara a violência.


Em suma, uma obra que me deu imenso prazer ler e que me fez conhecer homens de imenso valor e que merecem, pelo menos, uma referência e serem lembrados na nossa História. 300 anos revisitados da História de Portugal, treze homens temerários.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Há dias atrás

recebo uma notícia do lançamento do esperado novo romance de José Rodrigues dos Santos.

Confesso que fiquei interessado e satisfeito. Independentemente da qualidade de escrita dos seus livros e outras considerações menos abonatórias, o certo é que as histórias de JRS me cativam e entretêm, pelo que costumo, todos os anos, estar presente na apresentação do mais recente livro.

Este ano constato que a apresentação do livro é no próximo sábado cujo título é “O homem de Constantinopla” e que trata da vida de Calouste Gulbenkian. Até aí tudo bem, mas fiquei siderado quando, numa notícia do DN, constato igualmente ser este o 1º volume, de dois, da mesma obra. Ou seja, agora publica-se “O homem de Constantinopla” e, dentro de um mês, publica-se “Um milionário em Lisboa”. Uma obra, dois volumes, 44€ no espaço de um mês. Um jackpot!

Caro José Rodrigues dos Santos, pese embora aprecie os seus romances, desta vez não vou comprar pois sinto-me indignado por essa “chica espertice” de alguém que sabe que vende milhares e que quer fazer render o “peixe” num país atolado numa crise que está a atingir sobretudo a classe que lhe compra os seus livros. Não são os intelectuais, não são os meninos de “bem”, nem são os milhares “Boys” e “Girls” e filhos destes e destas que o fazem, quem lhe compra os livros, na sua maioria, são as pessoas da classe média, precisamente aqueles que mais sofrem com uma crise que não são culpados mas que têm de pagar.


Honestamente, e para não ir mais longe, fiquei decepcionado!

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Madrugada Suja – Miguel Sousa Tavares

Este é o terceiro romance de Miguel Sousa Tavares (MST) e, depois do best-seller “Equador” e “Rio das Flores”, MST dá à estampa um romance pouco cativante, monótono que, embora bem escrito, se revela uma desilusão.

A premissa até é apelativa: tudo se inicia numa madrugada. Quatro jovens alcoolizados irão ter uma experiência que os marcará para toda a vida e que, anos depois, irá influenciar a vida de outros.

O primeiro capítulo é a narração deste caso e, de facto, ficamos com água na boca para o que aí vem, sobretudo para quem conhece o “jeito” de MST em narrar uma boa história.

E, confessando que é um livro que se lê bem e que tem momentos de verdadeiro deleite literário, o certo é que a história se mistura com outras histórias sem que percebamos qual o verdadeiro significado daqueles intricados cruzamentos, sucedendo-se alguns episódios incoerentes que, a meu ver, nada vêem acrescentar ao trama e ao destino dos personagens. Até porque rapidamente esse primeiro episódio cai para outro plano e só quase no fim do livro surge com todo o fulgor, acrescentando ainda mais dissonância a todo o contexto. Aliás, confesso que achei muito forçado e até utópico a fase final do livro, coincidências muito ingénuas arranjadas um pouco à pressa por quem, e isso não entendo, pareceu, às tantas, ter pouca paciência para arranjar um fim coerente.

No entanto, para além da história, entendi a mensagem, carregada de ironia, de MST aos políticos, política e seus jogos de influências. Conforme senti nos outros romances, aqui também me parece que MST escreve e constrói personagens com alguém, muitos, no pensamento. Os exemplos de corrupção que constroem a acção do livro, a forma como são trabalhadas, creio, é a de como são feitas em Portugal. Isso já se sabe, no entanto acredito que aquando da construção dos personagens, MST se baseou em pessoas e exemplos reais que, enquanto jornalista, conhece bem. Fico sempre com essa ideia em todos os livros dele e neste isso sobressai na forma como ele “arranja” os partidos políticos e os jogos de “bastidores”.

Um livro bem escrito, que se lê bem mas que está a léguas de “Equador” e de “Rio das Flores”.

Nota final para o elevado preço dos livros de MST, sobretudo este. Com 350 páginas cheias de diálogos, este é um livro que se lê, e pausadamente, em oito horas, pelo que dar 20€ por uma obra que pouco rende e que no fim nem é nada de especial, é algo que devia ser revisto por quem tanto critica, e bem, as medidas de austeridade que têm assaltado o povo português.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Meu Programa de Governo (O) - José Gomes Ferreira


"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito", Eça de Queiróz, 1872.

José Gomes Ferreira, conhecido jornalista que tem efectuado várias e incomodas análises na SIC sobre a crise no mundo e as suas causas, lança-se, com este livro, numa análise mais vasta e global sobre o estado do país, principalmente, abordando também e porque estão interligados, a crise na Europa e no mundo.

Não sendo economista, José Gomes Ferreira revela um profundo conhecimento na abordagem minuciosa que efectua, descobrindo todo um vasto mundo sujo e hipócrita que nos levaram para o estado em que estamos, não se demitindo em criticar todos os quadrantes políticos e sociais, pois e como ele deixa provado, todos temos culpas, não apenas os políticos que, desde 1974, têm desgovernado Portugal.

Mais profunda do que aparenta, a presente crise vem sendo construída há muito tempo de uma forma esquemática e pensada. Ou seja, esta crise foi concebida e destinada a acontecer por políticas neo-liberais intencionais que entregaram todos os quadrantes do país a mercados altamente gananciosos que, em proveito próprio, prejudicaram o país.

Tudo aqui é escalpelizado. As políticas ruinosas e irresponsáveis sempre em prejuízo do povo que ficaram e ficarão sem condenação, os pré-conceitos que os políticos tentam, e conseguem, passar para a opinião pública. Por exemplo, esses políticos não se cansam de afirmar que a Segurança Social dá prejuízo e o melhor seria privatiza-la. É falso! A Segurança Social dá lucro e recomenda-se. A intenção é fazer crer que dá prejuízo de forma a passa-la para os privados e com isso, uma vez mais, prejudicar o povo.

Mas há mais, muito mais. A esquerda irresponsável, sempre tão corrosiva a criticar qualquer política que se faça, é aqui também culpabilizada por defender poderes instituídos, por não ter visão e por estar sempre com a mesma conversa sem reparar que o mundo mudou e que defender a continuação deste sistema, apenas está a defender os mesmos poderes que têm desgovernado e ganho milhões em prejuízo do povo.

O povo irresponsável, que com o seu desligamento, o deixar andar, permitiu aos políticos fazerem o que quiseram até chegar ao presente onde a vergonha e o decoro se perderam por completo.

A direita irresponsável dos lobbies que tem na sua base política o neo-liberalismo desenfreado onde apenas olha a números sem qualquer preocupação social. Que protege grandes grupos económicos que não merecem e que não tem coragem para agir contra esses mesmos grupos que tanto prejuízo têm dado ao país.

Os grandes empresários que passam a vida em conferências e colóquios a criticar e a mandar bitaites sobre a economia e como e estado devia agir, em vez de estar a gerir as suas empresas, que é para isso que são principescamente pagos.

As ruinosas PPP’s que mandaram o país de vez para a valeta, criando uma dívida que vamos estar a pagar até 2040. Hoje em dia, os responsáveis por essas ruinosas parcerias aí estão a pavonear-se, enquanto quem definha e paga é o povo.

Em suma, José Gomes Ferreira aponta o dedo e nomeia culpados, no entanto este não é um livro onde apenas se refere o que de mal, e foi muito, foi feito. É apontado, pasme-se, políticas e acções boas para o país e, sobretudo, o autor dá a sua visão e aponta alternativas válidas que apenas requerem boas intenções e vontade de lutar contra os lobbies que agrilhoam este país, vontade de trabalhar e fazer políticas que criem riqueza em prol do povo, que façam este país sair do estado em que está. Não é difícil, apenas requer vontade e isso é o mais difícil.

Nota final para a forma como a minha perspectiva de Angela Merkel mudou. O autor explica a política e as intenções de Merkel. Faz sentido, sobretudo quando dá exemplos no que de positivo tem feito pelos países em crise e pelo contraste que existe com os Estados Unidos da América. Fiquei elucidado e com a crença que o federalismo é mesmo o melhor para Portugal, pois se formos obrigados a seguir uma política de rigor feita para o povo, não tenho dúvidas que Portugal pode ser um país forte, pois temos um povo fantástico que já deu provas ao longo da História e em qualquer continente.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um Passo à Frente - Colleen McCullough

Sem grandes expectativas, como em todos os policiais que leio ou tento ler, abracei este romance devido ao nome da autora e à qualidade da sua escrita. Nesse aspecto não posso dizer que foi tempo mal empregue, pois a autora consegue construir um trama bem elaborado numa escrita agradável e ligeira que não nos deixa largar a acção face ao desenrolar dos acontecimentos.

Por outro lado, e como na maioria dos policiais, há um vasto desfile de personagens com a clara intenção de criar na mente do leitor dúvidas sobre o hipotético criminoso, pois todos esses personagens são tidos como suspeitos e todos eles têm factos que os podem indiciar enquanto tal. Assim como há em diversos capítulos, todos eles curtos, diálogos que em nada alteram ou acrescentam à história, tornando em diversas alturas, o livro pastoso e algo monótono.

Em todo o caso a receita é a mesmíssima: um crime, a descoberta de um corpo em condições macabras, o típico detective/polícia divorciado, neste caso não desmazelado, uma equipa policial que está sob as suas ordens, a subsequente investigação, o interrogatório a diversos suspeitos e um criminoso esquivo que continua a cometer crimes sem deixar vestígios que façam avançar a investigação. De uma forma muito resumida, é apenas isto e pouco mais.

Os crimes são horrendos e a sua investigação traz outros enigmas que mais vêm baralhar a polícia, no entanto há sempre uma altura em que surge uma pista e, a partir daí, a relação entre os crimes começa a fazer sentido, acabando-se por chegar ao criminoso que, obviamente, é alguém dentro do lote dos suspeitos.

Foi um livro que me entreteu e que não desgostei. A construção dos personagens, a sua caracterização psicológica está bem elaborada, assim como a sua localização sociocultural que até podia ter sido melhor explorada face ao clima agreste que se vivia na sociedade norte-americana. O pormenor com que a autora descreveu o estado dos corpos é algo que nos consegue criar náuseas face ao realismo pormenorizado da narrativa e que dá a este policial um pouco mais de "sal" em comparação com tantos outros.

domingo, 11 de agosto de 2013

Update

Bom, confesso que não ando muito virado para leituras e as que tenho feito são, na sua maioria, releituras de clássicos e de outras obras que gostei de ler nos últimos tempos.

Cada vez mais me decepciono com as novidades ao ponto de já nem lhes dirigir a minha atenção.

As que me chegam às mãos são uma perda de tempo tal a pouca qualidade que revelam.

Mas enfim.

Em todo o caso lembrei-me de actualizar o Book Bingo.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Na Noite em que Morri - Tiago Gonçalves

Numa qualquer discoteca onde o fumo dos cigarros se mistura com a bebida, uma zaragata estala acabando no homicídio de um jovem.

Impotentes e incapazes de sequer reagir, o grupo de amigos observa o corpo de Miguel a ser transportado e depressa vê crescer a ira de um crime cometido contra um deles.

O narrador, do qual não sabemos o nome, sente-se revoltado e frustrado por saber que, provavelmente, o criminoso, que todos conhecem, não será castigo devidamente nascendo nele uma necessidade de vingança.

Embora seja um conto muito curto, honestamente não gostei da história.

Percebi que a intenção de fundo é sobre o mal que cobre a humanidade e a impunidade que assistimos diariamente em qualquer noticiário, onde criminosos, de colarinho branco principalmente, cometem crimes atrás de crimes sem que os mesmos sejam devidamente castigados. Há depois aquela nossa vontade de fazermos justiça com as próprias mãos, porém isso não passa de uma mera vontade sem determinação.

Desde a morte do jovem, o narrador entra num estado de revolta que o leva a beber e viver obcecado com a vingança. Tudo se passa de uma forma muito rápida, sem grande coerência, pois várias questões se levantam, sendo a principal que, se todos conhecem o assassino, como é que o narrador encontra o assassino em liberdade, aparentemente a passear calmamente?

Confesso não ser um grande apreciador de contos, mas penso que mesmo um conto deve ter um sentido coerente e lógico dos acontecimentos narrados. Neste caso, há um acontecimento violento, infelizmente algo comum, no entanto o desenrolar da narrativa é fraca cujo sentido, embora pense ter captado, não é de todo coeso.