“Os Thibault”, obra grande de
Roger Martin du Gard e um dos meus grandes objectivos literários para 2013,
cumprido ao longo de quase dois meses.
Escrito entre 1922 e 1940, este é
um dos clássicos que há muito fazia tenção de ler. Adquirida num alfarrabista
há vários anos atrás, numa edição velhinha da Livros do Brasil e dividida em
três volumes, tentei, desde essa altura, ler esta obra por duas vezes (a última
há 3 anos), sendo que acabei sempre por desistir antes de atingir a página 200
do 1º volume. Mas, desta vez fiz “tripas, coração” e resolvi forçar a leitura
da obra (algo que muito raramente faço), mesmo em períodos de longos bocejos e
até intercalando com outros livros, mas acabei por conseguir e, no fim, posso
dizer que gostei mas que está longe de ser daquelas obras que me deixa
saudades, daquelas obras que penso um dia reler. Li, analisei a obra durante a
sua leitura, deliciei-me com certos diálogos fenomenais, apaixonei-me por alguns,
poucos, personagens, mas pouco me deu enquanto obra de referência, exceptuando
uma soberba análise do antes e durante a Primeira Grande Guerra.
Dividido entre duas famílias, Du
Gard desenha-nos o panorama de uma micro sociedade burguesa clerical e protestante.
De um lado a família Thibault chefiada pelo seu opressivo pai que procura criar os filhos com mão de ferro,
do outro a família Fontanin, protestante, mais livre e cujas relações pessoais
são menos formais.
É entre estas duas famílias que o
romance é desenhado, saltando de família em família, de personagem em personagem,
delineando os seus carácteres tão diferentes mas que nos vão dar uma imagem da
sociedade francesa da primeira década do séc. XX.
Durante essa fase e embora possa
admitir algum interesse, perguntava-me a mim próprio que interesse teria eu em
ler sobre essas relações pessoais. O percurso de Jacques e Daniel é muito
interessante. Duas crianças rebeldes que fogem às famílias e que acabam pela
sanção de uma delas enquanto a outra é recebida com carinho, é algo que vai ter
alguma repercussão no futuro, sobretudo no que respeita ao mais rebelde. Depois
temos Antoine, jovem médico, ateu e com um feitio completamente diferente do
irmão, o personagem que mais me cativou, aquele que mais me deslumbrou com as
suas teses, aliás uma das grandes características deste livro são as muitas mensagens
simbólicas que, à época, fazia todo o sentido.
Actualmente, e embora muitas das
teses sejam perfeitamente actuais, o romance perde interesse em diversos
momentos, caindo numa monotonia sonolenta sem que entendamos bem qual o
objectivo do autor, não digo que os “caminhos” seguidos não dêm em nada, mas
fiquei com a sensação de que o caminho traçado não teve grande significado
objectivo, uma espécie de alguma palha. São alguns os exemplos que são
explanados nas mais de 1500 páginas, no entanto a minha percepção da obra mudou
no último terço do terceiro volume. Somos assaltados por uma guerra brutal e pela
constatação de uma realidade que vai matar o sonho a milhões de seres humanos
em tudo o mundo. Confesso que fiquei fascinado com esta fase e, sobretudo, com
a enorme qualidade da escrita de Du Gard, esta qualidade que, diga-se, abrange
toda a obra. Belíssimos diálogos, dissertações que nos fazem meditar na
essência do Ser Humano e no desenrolar da sua História, fabulosas meditações que
marcam esta obra, que ditam o destino, não só dos personagens, como da própria
civilização.
Uma obra que valeu o Nobel a
Martin Du Gard e que merecia uma reedição de uma editora, em vez de tanta obra
de qualidade duvidosa que expelem mensalmente.
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