sábado, 31 de dezembro de 2011

Balanço Pessoal de 2011

À semelhança do efectuado nos dois últimos anos, esta é a altura de todos os balanços e, como este é um blog dedicado à literatura, vou fazê-lo em relação aos livros que li em 2011.

Este ano li menos do que o ano passado. Confesso que não dediquei tanto tempo à leitura como o fiz no passado, mas enfim, sempre fui lendo e acabei por ler livros interessantes e outros menos, alguns, que nem os considero como leitura, desisti a meio ou pouco depois de os começar. De observar que este foi um ano algo pobre em livros que me empolgassem, daqueles que deixam saudades, que planeamos reler algum tempo depois. Um pouco por culpa própria, pois insisti muito em obras novas em prejuízo de alguns clássicos que continuam na pilha, algo que penso modificar em 2012.



Livros Lidos: 52
Páginas lidas: 17406
Média diária (páginas): 48
Média Livros mês: 4
Média Página/Livro: 334



Meu Top:


1 - A Selva










O Mais Prazeroso:

A SelvaFerreira de Castro: 2011 foi o ano que descobri Ferreira de Castro, autor que foi durante muitos anos o autor português mais traduzido e aquele que esteve muito perto do Nobel, ou pelo menos falava-se sempre nele como possível vencedor. Esta obra é excepcional, é um grito de revolta sobre a vida escrava dos seringueiros, mas é simultaneamente um documento sobre o Ser Humano e uma autobiografia do autor. Uma obra de leitura obrigatória para quem se considera um leitor.


Mais Divertido:

Opereta dos VadiosFrancisco Moita Flores: Entre a seca e a diversão, foi um livro que me aborreceu mas que, de entre os 52 lidos, o que mais me fez rir. Uma obra que diria actual, mas vale a pena ironizar com a javardice governamental quando já nem o povo lhe acha piada?


Trabalho a Ler:

A insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera: Um livro denso, profundo, onde demorei bastante tempo a entrar na escrita e no universo do escritor. Muito bem escrito, mas que me decepcionou face à imensa fama que tem, mas que não me despertou grande interesse. Nem me apeteceu escrever a opinião.



Decepção:

As cruzadas vistas pelos Árabes - Amin Maalouf: Outro livro muito afamado de um autor que é sempre mencionado para o Nobel da literatura, mas que se trata unicamente de um amontoado de informação histórica pinçalgado por ficção. Não gostei. Para além disso encontrei várias inverdades Históricas no livro, o que, por si só, é grave. Outro livro que nem me dei ao trabalho de pensar e escrever uma opinião.


Não consegui acabar:

Não vou referir nenhum, porque não me recordo de nenhum título em especial.


O Pior:

Por ti ResistireiJúlio Magalhães: Uma fraude, sem interesse, sem ritmo, sem nada. Uma nulidade, um autor construído pela sua imagem pública que não consegue cativar e que demonstra não saber pesquisar. O assunto deste livro dava “pano para mangas”, mas deparamo-nos com uma história de amor simplista, mal escrita, cheio de clichés. O ano passado considerei o livro “Longe do Meu Coração” como a decepção. Este ano considero a pior leitura de 2011.


A Revelação:

João Paulo Oliveira e Costa e Cristina Torrão: A literatura portuguesa tem óptimos autores e este ano constatei estes dois nomes que me empolgaram. São dois estilos diferentes, mas semelhantes na forma excelente como construem os romances Históricos e como nos situam no contexto e na época.


Em relação ao blog, quero agradecer as visitas diárias e as mensagens de apoio e trocas de ideias sobre livros. É para isso que eu iniciei esta aventura na blogosfera, e, embora possa por vezes parecer que estou ausente ou desinteressado, a realidade é que todos os dias dou uma espreitadela e sempre que posso, escrevo opiniões e outros artigos. Um bem haja a todos.

Como devem também ter notado, acabei com os passatempos e com as promoções a novos livros. Sem me dar conta, estava a transformar o meu blog num espaço quase gratuito para as editoras promoverem os seus livros. Para além do trabalho que tinha em estruturar essas promoções, ainda tinha de aturar certas exigências, sobretudo no que respeita aos passatempos. Para além disso, e respeitando quem o faça, não aprecio tantos passatempos que inundam a blogosfera e, constatei também, que surgiram muitos blogs apenas com o intuito de sacar livros às editoras. O meu blog é um espaço pessoal, onde escrevo, filosofo e divago sobre as obras que leio, um espaço de trocas de opiniões e, decidi, que não pode ser tomado por alguém que tem como intenção o lucro comercial, esquecendo muitas vezes os leitores.

Para todos os ilustres amigos e amigas que ajudam a crescer o NLivros, um forte abraço e:



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Marquesa de Alorna – Maria João Lopo de Carvalho


Antes de mais, é sempre um enorme prazer ler bons romances históricos, o meu género preferido. Num bom romance histórico, para além de nos ser dado a conhecer a época abordada, o autor consegue-nos situar e quase que interagir com os personagens, uma espécie de relacionamento à distância, como se de facto conhecêssemos as pessoas, fossem nossas amigas e só a distância física nos impede de estarmos e falarmos com eles.

Pois bem, Maria João Lopo de Carvalho, consegue, com este seu primeiro romance histórico, precisamente isso, conseguindo mais, empolga-nos na forma como descreve, não só a vida fascinante de Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, como consegue também, através de pormenores e imensas curiosidades, trazer os séculos XVIII e XIX para o nosso seio, tornando-os vivos.

Ou seja, resumindo tudo o que vou adiante escrever, estamos na presença de um romance histórico fabuloso, um dos melhores que li nos últimos anos.

Leonor de Almeida Portugal, 4ª Marquesa de Alorna, 8ª Condessa de Assumar, foi uma mulher fascinante assim como fascinante foi a sua vida.

Nasce em 1750, neta de dos Marqueses de Távora que em 1758 iriam ser alvos de um processo que levou à ruína da família, tem no terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755, a sua primeira recordação que irá marcar a sua vida. Não só pelo acontecimento em si, como também porque, quase no seguimento, vê os seus avós Távoras encarcerados e mortos no cadafalso. No seguimento desse célebre processo movido pelo Marquês de Pombal, um dos ódios de estimação da Marquesa, que ordena a prisão de toda a sua família. As mulheres no convento de Chelas e seu pai, na Torre de Belém e posteriormente no forte da Junqueira.

É lá que Leonor irá passar 18 anos. Imaginem o que quase duas décadas de prisão, por um crime que nem sequer existiu, fizeram na mente daquela família.

No entanto, é no cárcere que Leonor constrói a sua personalidade. Começa desde muito nova a escrever ao seu pai e, como ele gostava de poesia, Leonor entretém-se a escrever poemas que os envia ao pai. Curiosa e muito inteligente, entrega-se ao estudo das obras de Rousseau, Voltaire, Diderot, Bayle, entre outros. É o início de uma actividade que lhe irá trazer fama no futuro e o cognome de Alcipe.

Tudo isto e a restante da sua vida fascinante, Maria João Lopo de Carvalho narra brilhantemente. A liberdade e reencontro da família, a luta por limpar o nome dos Távoras, o seu casamento, o nascimento dos filhos, a estadia na corte de Viena onde conheceu Mozart, Salieri, o arquiduque da Áustria José II, entre tantos episódios e acontecimentos que fizeram de Leonor uma mulher do seu tempo mas com uma mentalidade muito além do seu tempo.

Um livro volumoso, mas que se lê num sopro, face à qualidade da escrita, simples e objectiva, e à forma estruturada como a autora coloca os acontecimentos. Sem qualquer pressa, sem pular épocas, tudo está devidamente organizado e facilmente seguimos o percurso da marquesa desde a sua infância até à sua morte em 1839.

Um livro altamente aconselhável, que me deu imenso gozo a ler e que me permitiu ter um conhecimento algo diferente desses dois séculos, sobretudo a segunda metade do século XVIII. Uma época marcada pela Revolução francesa que teve um impacto decisivo no rumo das sociedades.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Solitude, Pequenas Histórias de Grandes Viagens – Sérgio Brota


Confesso que quando iniciei este livro de Viagens, pretendia efectuar uma pequena análise etapa a etapa das viagens descrita. Assim o fiz nos primeiros capítulos, nomeadamente em “Japão – O Estranho Império” e “Transberiano – A Estação do Frio”. Depois, acabei por deixar um pouco de lado o livro e, quando dei por mim, havia-o terminado sem que tivesse voltado a escrever.

Desta forma, vou optar por efectuar uma pequena análise ao conjunto da obra.

Conforme referi nas duas análises anteriores, gostei do estilo de Sérgio Brota. É objectivo e narra, não só o que vai observando, como tem a capacidade de efectuar considerações que nos dão uma imagem pessoal do observado. Ou seja, o autor à medida que se vai deslocando, visitando locais, vai-nos dizendo o que vê, no entanto dá-nos também a sua opinião pessoal em simultâneo que nos enquadra, não só nem termos de espaço-tempo, como também em relação à História do local e do país em questão. Importante realçar a interacção com os locais e a vontade e curiosidade nos costumes e na alimentação.

Diria, no sentido de perceberem o que quero dizer, que Sérgio Brota utiliza uma linguagem cinematográfica. A descrição é efectuada dessa forma, pingada aqui e ali com as tais considerações pessoais que, a meu ver, enriquecem muito a obra porque nos dão uma imagem mais realista do local visitado. E por falar em imagens, nota para as várias fotografias, do autor, a preto e branco que nos ajudam a situar e a visualizar aquilo que o autor observa.

Nota final para a edição da chancela da Papiro Editora. Passe o paleio da editora no seu site, a qualidade desta edição, que deduzo seja daquelas que o autor suporta a maioria das despesas, e refiro-me à encadernação, é talvez o pior que vi até hoje. Folhas individuais, cortadas e coladas a quente. Quando iniciei a leitura, umas 20 páginas depois, já todas estavam soltas. Imaginem como ficou no final. Uma salganhada incrível de folhas soltas. Tive de utilizar cola de encadernador para que o livro ficasse digno de figurar na estante, no entanto e numa análise mais detalhada, este é um exemplar que dificilmente poderá ser lido sem que a mesma cena se repita. Publiquem barato, mas não abusem, pois há aí tanta bosta a ser publicada com encadernações de luxo, que obras de facto com o valor que Solitude tem, merecia uma melhor atenção.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amigas para Sempre – Fátima Lopes


Quatro amigas encontram-se num restaurante para festejar os anos de uma delas.

À medida que o jantar vai avançando, começam as revelações pessoais de cada uma e onde são revelados segredos guardados nos seus íntimos que muito surpreenderão as restantes.

Cada uma delas acaba por ser um pouco o espelho da nossa sociedade, no aspecto em que revelam o medo da vergonha, o medo de ser julgada ou criticada, de mostrar que o que temos não é bem aquilo que mostramos, ou seja, as falsas aparências.

São mulheres com habilitações superiores, bem sucedidas profissionalmente mas que, porém, no aspecto pessoal, têm uma vida vazia, vivem das aparências, vivem para a sociedade.

As revelações são surpreendentes e, através do desabafo que vão tendo, onde exprimem as suas dificuldades, complexos e problemas, assistimos a um transformar da vida de cada uma delas, demonstrando que a verdadeira amizade pode transformar vidas.

De uma escrita muito simples e directa, o livro é curto e face ao tamanho das letras diria que, bem exprimido, faria um livro de umas 100 páginas, Fátima Lopes escreve uma história banal e sem qualquer necessidade de pesquisa, ou seja, para escrever uma história destas, bastou sentar-se e narrar um casual encontro de amigas onde mencionados os dramas de cada uma, tipo numa conversa enquanto é servido um chazinho com bolinhos.

Nada de especial, é agradável, lê-se bem e num ápice (qualquer coisa como umas 4 horas e com intervalos), e faz-nos ver que por muito que as coisas estejam, podem sempre melhorar, basta a gente querer. No entanto é por livros destes que muitos leitores recusam ler livros escritos por jornalistas num aparente aproveitamento da sua figura pública. Há autores e autores. Fátima Lopes é banal na forma como escreve. Nada nos ensina, apenas nos entretém e de notar que esta história de interesse tem pouco, mas enfim, comparar este livro mo qualquer livro de José Rodrigues dos Santos ou Miguel Sousa Tavares, é a mesma coisa em comparar Lagosta com berbigão. Nada a ver!

Um livro que pode até ser de leitura importante para quem esteja por baixo e com pouca esperança na sua vida pessoal.