sábado, 1 de dezembro de 2018

História de uma Serva (A) - Margaret Atwood


Pessoalmente gosto muito de ler romances distópicos, livros que encenam uma realidade futura que, dado o curso que a Humanidade toma e a sua essência (da humanidade), não é de todo impossível de alguma vez acontecer.

São vários os títulos que abordam cenários distópicos , todos eles obviamente descrições ficcionais que promovem utopias, no entanto, em todos eles é claro perceber a intenção do autor, quer seja na caracterização de regimes totalitarista, opressivos, ou mesmo, uma sátira ao uso excessivo de tecnologias e a prisão que representam para o Ser Humano. 

Pessoalmente já li vários desses títulos, alguns dos quais recordo com especial prazer, dada a Qualidade da escrita e da previsão de uma realidade perfeitamente possível, exemplos como “1984”, “Admirável Mundo Novo”, “Ensaio sobre a cegueira”, “12 macacos”, são títulos que me marcaram sobremaneira pela forma realista como foram escritos e apresentados, ou seja, são mais do que distopias, são previsões claras para onde a Humanidade caminha.

“A História de uma Serva”, não entra, de todo, nesse circunscrito lote de obras que me agradaram, sobretudo e principalmente, porque desde o principio não o achei verosímil o suficiente, ou seja, pese embora seja uma história “engraçada” e muito bem escrita, o enredo e a explicação de todo aquele cenário, nunca me fez acreditar ser possível acontecer.

Claro que sei que se trata de um romance, mas não é por acaso que nunca leio livros de fantasia, quando leio algum romance, gosto de crer naquilo que estou a ler e pensar que um dia poderá suceder ou que tenha sucedido. Não leio porque sim, leio obviamente para me entreter, mas leio igualmente para crer naquilo que estou a ler, não sei se me faço entender, mas também pouco importa.

Gostei do livro, mas não o considero uma obra-prima como muitos apregoam, até porque, para além da pouca plausibilidade, a acção da principal personagem fica muito aquém do que eu julgo que poderia suceder, vivendo uma vida de recordações do passado em que vivia em liberdade, mas pouco ou nada fazendo para se libertar das grilhetas actuais. 

Depois, há uma fraca conexão argumentativa dado, não apenas pelo que referi no parágrafo anterior, como também da fraca explicação, ou, se quiserem, da deficiente explicação, como e porquê tudo sucedeu para aquele cenário. 

Podem sempre alegar que é uma obra que aborda, de forma figurativa, temas como repressão, anti-semitismo, preconceito, violência sexual, violação, liberdade de expressão, etc, etc, mas, honestamente, não o considero uma daquelas obras de “encher o olho” e que fique na memória. É sim uma das obras que pretendia ler e que, agora que terminei, não aconselho a quem procure uma Distopia coerente e credível.


sábado, 24 de novembro de 2018

Herança de Eszter (A) – Sandor Marai


Este era um daqueles livros, e ainda possuo muitos, que andava pelas estantes há alguns anos à espera de ser lido. Tinha conhecimento da qualidade literária de Sandor Marai, mas, confesso, a sinopse nunca me cativou por aí além, julgando sempre estar na presença de uma obra menor do autor. Puro engano!

Antes de qualquer consideração, reconheço que fiquei atordoado pela qualidade da escrita de Marai. Possui uma forma simples de escrever, mas, ao mesmo tempo, dura, directa, objectiva e, simultaneamente, poética, fazendo com que a conjugação das palavras seja uma sinfonia no seu todo, quase como algo que nos vai afagando a alma com pedaços crus de realidade. Ou seja, à medida que nos vai narrando, de forma soberba, a história, é capaz de descrever, em poucas palavras, o intimo da personagem e os seus pensamentos, colocando-nos na “sua pele” e fazendo-nos viver essa existência. 

Achei fenomenal como o autor conseguiu com que eu “sentisse” as dores e angustia de todas as personagens deste livro, tanto as personagens maiores como menores, consegui com que compreendesse o ponto de vista de cada um deles, e isso é algo que só alguém que possui o dom da palavra na escrita.

O livro é curto. São menos de 200 páginas, em letra considerável, com capítulos muito curtos, mas desengane-se que o autor fica aquém do pretendido. Não! Penso ser este um livro que tem as palavras certas, pois não são necessárias muitas para, um escritor com qualidade, contar uma história.

Tem um ritmo alucinante, perturbador e inquieto. A força das principais personagens extravasa o próprio livro, pois dei por mim a visualizar, em pessoas que conheço, as descrições que ia lendo num misto de emoção e afecção. E mais curioso é ir percebendo que o desenrolar de todo o enigma é perturbadoramente simples, pois a verosimilitude é tão real que até arrepia.

Em suma, um livro altamente aconselhável para quem aprecia efectivamente boa literatura.


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Minha Breve História (A) – Stephen Hawking


Este pequeno livro (112 páginas), é um relato intimista efectuado pelo próprio Stephen Hawking, onde ele se propõe narrar, de uma forma muito sucinta, a sua vida, traçando, com pinceladas, por vezes até demasiado vagas, o seu trajecto enquanto estudante, cientista e pai de família.

Nestas páginas, podemos ler alguns episódios da sua vida e curiosíssimos aspectos completamente desconhecidos, como, e por exemplo, as apostas com alguns colegas sobre a existência dos buracos negros, ou até o seu desespero quando a “sua” doença” lhe foi diagnosticada. Por outro lado, ele próprio afirma que ter essa doença muito contribui para dedicar a sua vida à investigação, não “perdendo” tempo com aulas, congressos e afins.

Curioso também ler a confissão que o levou a escrever o best-seller “Uma Breve História do Tempo”, livro que ele elaborou com o maior profissionalismo, mas que jamais julgou ter tanto sucesso como obteve (é considerado um dos livros mais importantes do século XX).

Depois e em tão poucas páginas, o que só por si denota a imensa objectividade que Hawking sempre revelou, ele fala sobre as Ondas Gravitacionais, o Big Bang, Buracos Negros, Viagens no Tempo, etc, uma série de questões cientificas que agradam a qualquer espírito cientifico, mas que, o Hawking tem o condão de simplificar, ou seja, torna meras explicações de física quântica acessível ao conhecimento de qualquer um.  

Esta opinião é muito curta porque não há muito a dizer, é uma autobiografia honesta que se lê muito rapidamente.

Pessoalmente adorei ler este pequeno livro, pois considero Stephen Hawking um dos maiores génios de todos os tempos, só comparável a génios como Einstein ou Leonardo Da Vinci.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Inferno no Vaticano – Flávio Capuleto


Sinceramente nem sei bem o que hei-de dizer deste livro, até porque também não quero ser muito cruel para com o autor.

Questiono-me, antes de mais, como é que uma editora, qualquer que seja, publica um livro destes que não tem quase nada, e já estou a ser meigo quando afirmo, quase nada, pois aqui e ali até nos vai dando algumas informações, mas quem está por detrás das edições? Ou, questiono, basta ter dinheiro ou cunhas para se publicar, sei lá, honestamente gosto de pensar que, qualquer livro, é antes lido por algumas pessoas da editora, sobretudo responsáveis, que atestam da sua qualidade e se vale a pena, ou não, ser editado, até porque um livro tão mau descredibiliza a editora.

Depois, e para além de erros factuais e históricos brutalíssimos que qualquer pessoa evitaria com uma simples pesquisa na internet (hilariante quando afirma que Jacinta e Francisco faleceram de Peste Negra…), este livro é ou tenta ser, uma cópia foleira do “Código da Vinci” de Dan Brown ou até das aventuras de Tomás Noronha de José Rodrigues dos Santos, pois desde as primeiras páginas é nítido a colagem ao argumento, aos cenários e até aos personagens. É de uma falta de imaginação atroz e, mais grave, senti-me verdadeiramente insultado, não pelo autor que escreveu aquilo e julga que é bom, mas pela editora que tem a coragem de editar e publicitar enganosamente um livro que não tem um mínimo de qualidade.

Imagine-se o cenário:

Há um morto nas catacumbas do Vaticano. Francesco Barocci, curador do Tesouro, é encontrado sem vida na Sala das Relíquias. Foi assassinado: chuparam-lhe o sangue.

CHUPARAM-LHE O SANGUE!!!

Quando li isso dei logo uma gargalhada e veio-me à mente alguém a chupar o sangue com uma palhinha... não, pensei, deve ter uma outra explicação.

Mas logo sabemos como é que lhe CHUPARAM O SANGUE: com uma seringa!!!!!!!!

Ah, bom... pensei! Fico mais aliviado! Ufa!

É verdade, com uma seringa!!!

Sabendo que o corpo humano tem entre 4 a 6 litros de sangue, comecei logo a questionar-me qual o tamanho da seringa a ponto de lhe CHUPAR o sangue todo. Imaginei aquelas seringas pequenas e dei por mim a rir do cenário, sobretudo porque o assassino tem pouco tempo para fazer o serviço (e isso é referido no texto). Vejamos, tirar, mesmo com a maior seringa disponível (que tem uma capacidade máxima de 20 ml) essa quantidade de sangue… ok, desisto. Para tirar 3 litros, supondo que o homem tinha uma valente anemia, parece-me que estaria ali muito tempo, ou estou a ver a coisa mal? Ah, já sei, o assassino era um vampiro e a seringa foi uma metáfora… deve ser isso!


Enfim!


E depois as partes eróticas? 


Isso então é puro êxtase! (Ironia)


Eróticas onde?


Livro muito mau, sem qualquer ponta de qualidade, embora aqui e ali tenha algumas informações curiosas mas com um enredo muito, muito deficiente, escrito aos arrepelões, com mudança de cenários e temporais ultra-rápidos, que nunca, mas mesmo nunca, consegue se torna minimamente verossímil.

Um dos piores livros que li até à data e um livro que não aconselho a ninguém, é pura perda de tempo.



terça-feira, 2 de outubro de 2018

Mulher do Camarote 10 (A) – Ruth Ware


Confesso que tenho andado numa maré de thrillers/policiais. Embora não seja um grande fã do género, sobretudo porque poucos são aqueles, livros, que têm o condão de me surpreender, deparando-me quase sempre com histórias muito similares, com um assassino psicopata, o respectivo detective, pistas e mais pistas onde muitas delas não dão em nada, apenas servindo para criar enredo, enfim, quase sempre me deparo com uma mão cheia de nada e são raros os livros do género que me surpreendem. No entanto, há alturas em que gosto de me dedicar a alguns livros do género cujas opiniões são boas e eis-me na posse de um deles.

Porém, confesso também que logo na sinopse houve algo que me fez franzir o nariz. Já li muitas centenas de livros e posso dizer que é sempre de desconfiar quando constatamos que um livro é comparado a algum best-seller ou, pior, quando é comparado a algum escritor de craveira universal e, neste caso, desconfiei quando na sinopse referia: “este romance evoca o ambiente clássico dos policiais de Agatha Christie: um ritmo que aumenta gradualmente de tensão, a sensação de perigo iminente e um conjunto de suspeitos reunidos num único lugar”. Claramente colando-se à obra lendária de Christie como é o “Crime no Expresso do Oriente”, só que desta vez, num barco.

Mas enfim, lá iniciei a leitura do livro e efectivamente não gostei, achei-o mesmo muito fraco e com um argumento perfeitamente decifrável.

Primeiro de tudo e embora o livro até comece de uma forma muito boa, mas que, sinceramente, não entendi a sua lógica, pois esse início é repetido exaustivamente como forma de apresentar um inquestionável trauma, mas um terço do livro é uma profunda travessia do deserto. Das quase trezentas páginas, só por volta da página cem é que a história começa a ter algum interesse, de resto são cem páginas de um longo bocejo.

Depois e não querendo entrar nos acontecimentos, para isso basta ler a sua sinopse e é algo que raramente faço, toda o enredo surge um pouco aos soluços, ficando por explicar alguns factos que a autora vai espalhando e que, pura e simplesmente, manda às malvas a partir de certo momento. Ou seja, quem e para quê surgiram determinados personagens? Para criar confusão? Pois bem, aceitaria, desde que a autora, tal como fazia Christie, explicasse. Para quê estar insistentemente a recordar o passado da personagem principal quando, na sua essência, de nada servem? Para criar uma ideia falsa ao leitor? Aceito, desde que no final a mesma explicasse.

Em suma, não me vou alongar muito porque não me apetece escrever mais sobre o livro, pois às tantas fiquei cheio de vontade de o acabar e, confesso, que as últimas cinquenta páginas, foram um suplício.

Só mais um pormenor. Na capa da edição portuguesa surge um navio cruzeiro de grande porte. Pois bem, a partir da página cem, quando finalmente chega ao navio, constatamos que se trata de um cruzeiro pequeno que leva umas vinte pessoas.

Pois!