Scrooge. – Disparate! Feliz Natal? Que razões tens para te sentires feliz? És pobre!..."
Há muitos anos que esta passagem me acompanha assim como a obra de Charles Dickens. Não que tenha alguma beleza literária, mas apenas porque, para mim, significa a beleza do Natal e o imenso significado que ele tem. Independentemente do consumismo e da hipocrisia que reina nessa época, o Natal, na sua génese, antecede a era cristã em cerca de 2.000 anos. Claro que não se festejava como actualmente, mas na época em causa, na antiga Mesopotâmia, realizavam-se festejos populares onde se comemorava o solísticio de inverno e, nessas festas pagãs, já existia o ritual das árvores iluminadas por muitas velas e ofereciam-se objectos uns aos outros como sinal de amizade e paz.
Claro que o cristianismo usurpou toda esta tradição, sendo, hoje em dia o Natal uma festa cristã onde se celebra o nascimento de Cristo e as prendas um ritual que celebra os reis magos.
Assim o Natal, originalmente, representava a época onde se festejava a natureza e a paz com a família e os amigos, e é assim que fui educado e é assim que educo e que gosto de ver e sentir o Natal, talvez a época do ano mais importante para mim. Desde criança que a minha família cultivou esse amor e não é por acaso que grande parte das minhas recordações de infância têm em comum o Natal.
Mas tudo isto porque pretendo exprimir o fascínio que para mim representa essa época: os sons, as cores, os cheiros, tudo característico e que me transporta à minha infância e que me traz doces recordações familiares.
Em 1843, o Natal era visto, em todo o mundo cristão, como uma festa religiosa com muito pouca festividade, pelo menos sem a festividade que hoje se conhece. Até que nesse ano, um senhor chamado Charles Dickens, publica um conto, pago inteiramente do seu bolso, intitulado O Natal do sr. Scrooge, publicado na semana anterior ao Natal de 1843. E não é que é devido a esse conto que surge o conceito de Natal que o mundo ocidental tem hoje?
Sabe-se que Charles Dickens gostava muito da época de Natal e que se entristecia por ver os seus conterrâneos darem pouco ou nenhum valor à época. Pai de cinco filhos e profundamente dedicado à família, Dickens escreve um conto de Natal que resolve publicar estrategicamente na semana anterior e é precisamente devido a essa publicação que o Natal se começou a impor.
O Natal do sr. Scrooge narra a história de um velho sovina que acha que o Natal é um monte de disparates. Homem solitário, tem uma firma onde emprega o seu jovem sobrinho, pobre de recursos mas rico em sentimentos, a quem trata e julga como um miserável. Na véspera de Natal e estando sozinho em sua casa, recebe a visita do fantasma do seu antigo sócio Marley, que lhe comunica que nessa mesma noite irá receber a visita de três espíritos: O do Natal Passado, O do Natal Presente e o do Natal Futuro. Mesmo falando com o fantasma de Marley, Scrooge escarnece do assunto e, após a partida do fantasma, decide voltar a adormecer. Até que quando bate a uma hora da manhã, Scrooge é acordado por terríveis pancadas que anunciam o espírito do Natal Passado. Sucessivamente e nessa noite, surgem-lhe os três fantasmas anunciados que o levam a visitar algo ou alguém, provocando assim uma completa transformação da personalidade de Scrooge, transformando-o num homem bom, generoso e honesto.
A mensagem é simples mas bonita: Bondade, amizade, união familiar e generosidade. São estes, talvez, os quatro pilares do Natal e, não deixa de ser tocante e marcante a transformação que é operada em Scrooge, fazendo-o ver o quanto é errado o seu comportamento e que ainda há pessoas que o amam.
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