
Mário, sonhando com amores audaciosos que via desfilar diante de si no cinematógrafo de San António, pretendia seguir outro rumo, outro destino que não aquele que lhe estava previsto.
O outro motivo foi a posse de uma bicicleta que lhe abriu as portas a uma nova e excitante profissão: carteiro.
É através de um anúncio na janela dos Correios, que Mário consegue esse emprego, sendo então colocado na ilha Negra a fim de entregar o correio a uma única e exclusiva pessoa: Pablo Neruda.
E é desse modo que Mário Jiménez se aproxima do poeta, nascendo entre eles uma amizade muito especial e deveras peculiar.
António Skármeta elabora um romance que, segundo o próprio, nasce um pouco por acaso, levando cerca de 14 anos a ser completado, pois, e é ele quem o diz, a inspiração nunca era muita e o jeito para a escrita também rareava.
Agora, o que dizer de um livro de 172 páginas que, alegadamente, tenta dar uma imagem dos tempos conturbados da década de 70 no Chile (golpe de Pinochet), abordando também a entrega do Nobel da Literatura a Neruda e o seu discurso na cerimónia?
Honestamente fiquei muito decepcionado, sobretudo porque a grande maioria das críticas são boas, sendo este livro considerado mesmo uma grande obra.
Ao nível da narrativa é muito fraquinho.
Até que começa bem e com um ritmo agradável, no entanto vai perdendo força e o interesse vai-se esfumando página a página.
O escritor, embora tenha iniciado o livro com um assunto e intenção bem delineada, a certa altura, parece começar a vaguear, afastando-se claramente dessa coerência inicial. Depois de andar um pouco às voltas, volta então ao rumo inicial, para terminar de uma forma desinteressante, pois o ritmo já foi destruído.
Propositadamente?
Se calhar, mas não acredito devido precisamente ao discurso inicial do escritor.
Depois destaco pela negativa a enorme simplicidade do texto.
Ele nunca se alonga em nenhum assunto. O golpe militar de Pinochet que derruba Allende é abordado muito ao de leve. A ida de Neruda, enquanto embaixador, para Paris, é narrada como um simples destacamento, longe de conseguir transmitir a enorme importância que teve na vida do poeta. Para não falar da atribuição do Nobel que, para além do discurso de Neruda, pouco ou nada conta.
É um livro que, repito, me decepcionou.
Não vejo onde está a enorme beleza que muitos descortinaram, pois até poemas de Neruda o livro é exíguo, a narrativa é demasiadamente simplista, algo enfadonha, falhando por vezes em sentido.
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