quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carteiro de Pablo Neruda (O) - António Skármeta

Dois motivos tão triviais levaram Mário Jiménez a mudar de ofício. Filho de pescador e com o futuro designado ao mesmo ofício do pai, Mário via o imenso esforço do pai que, depois de uma vida tão dedicada à faina, pouco ou nada havia ganho.
Mário, sonhando com amores audaciosos que via desfilar diante de si no cinematógrafo de San António, pretendia seguir outro rumo, outro destino que não aquele que lhe estava previsto.
O outro motivo foi a posse de uma bicicleta que lhe abriu as portas a uma nova e excitante profissão: carteiro.
É através de um anúncio na janela dos Correios, que Mário consegue esse emprego, sendo então colocado na ilha Negra a fim de entregar o correio a uma única e exclusiva pessoa: Pablo Neruda.
E é desse modo que Mário Jiménez se aproxima do poeta, nascendo entre eles uma amizade muito especial e deveras peculiar.
António Skármeta elabora um romance que, segundo o próprio, nasce um pouco por acaso, levando cerca de 14 anos a ser completado, pois, e é ele quem o diz, a inspiração nunca era muita e o jeito para a escrita também rareava.
Agora, o que dizer de um livro de 172 páginas que, alegadamente, tenta dar uma imagem dos tempos conturbados da década de 70 no Chile (golpe de Pinochet), abordando também a entrega do Nobel da Literatura a Neruda e o seu discurso na cerimónia?
Honestamente fiquei muito decepcionado, sobretudo porque a grande maioria das críticas são boas, sendo este livro considerado mesmo uma grande obra.
Ao nível da narrativa é muito fraquinho.
Até que começa bem e com um ritmo agradável, no entanto vai perdendo força e o interesse vai-se esfumando página a página.
O escritor, embora tenha iniciado o livro com um assunto e intenção bem delineada, a certa altura, parece começar a vaguear, afastando-se claramente dessa coerência inicial. Depois de andar um pouco às voltas, volta então ao rumo inicial, para terminar de uma forma desinteressante, pois o ritmo já foi destruído.
Propositadamente?
Se calhar, mas não acredito devido precisamente ao discurso inicial do escritor.
Depois destaco pela negativa a enorme simplicidade do texto.
Ele nunca se alonga em nenhum assunto. O golpe militar de Pinochet que derruba Allende é abordado muito ao de leve. A ida de Neruda, enquanto embaixador, para Paris, é narrada como um simples destacamento, longe de conseguir transmitir a enorme importância que teve na vida do poeta. Para não falar da atribuição do Nobel que, para além do discurso de Neruda, pouco ou nada conta.
É um livro que, repito, me decepcionou.
Não vejo onde está a enorme beleza que muitos descortinaram, pois até poemas de Neruda o livro é exíguo, a narrativa é demasiadamente simplista, algo enfadonha, falhando por vezes em sentido.

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