domingo, 13 de julho de 2008

Benevolentes (As) - Jonathan Littell


Aclamado e vencedor de Prémios em praticamente todo o mundo, “As Benevolentes” é um calhamaço de 900 págs. tido já como um futuro clássico da literatura e comparado a obras do Cânones da literatura ou de mestres como Dostoiesvky, Tolstoi, Dickens ou Hugo.

Littell propõe-se a narrar as memórias de um ex-oficial nazi, hoje em dia um notável e respeitável empresário, que ocupou um importante lugar na hierarquia do partido, tendo tomando parte na questão judaica e não só.

A história inicia-se alguns anos antes do conflito de (1939-1945). Maximillian Aue, de uma forma pragmática e aparentemente se remorsos, narra parte da sua infância e juventude até à sua casual entrada no partido nazi. A partir daí há toda uma ascensão na hierarquia que o leva a estar presente na invasão à Rússia, passando por diversos campos de concentração onde foi um dos organizadores dos mesmos.

Descreve assim a origem e início das deportações, os interesses das mesmas e das perseguições lavadas a cabo em toda a Europa, assim como vai descrevendo situações de guerra, sobretudo, para mim das mais interessantes e cruéis, a Batalha de Estalinegrado, considerada como a batalha mais sangrenta de toda a História das guerras, onde pareceram, em apenas 6 meses, 1,5 milhões de pessoas, entre soldados e civis.

Obviamente que nesses aspectos o livro é muito interessante, mas, globalmente o livro aborreceu-me imenso.

O autor prende-se demasiadamente em diálogos que não levam a lado nenhum. Diálogos vazios, de ocasião, colocados em exagerados jantares, almoços e encontros que até admito pretender mostrar o vazio da vida da elite alemã, mas que de interessante nada têm e que têm o condão de cortar o ritmo que o livro por vezes consegue.

É notória a intenção do autor em chocar com os pormenores de alguns detalhes que até podiam servir como um tempero para os acontecimentos que se seguem, no entanto, pese embora esses pormenores e para a história que narra e para o que procura contar, é um livro demasiado volumoso com dezenas e dezenas de páginas de pura palha, arrastando-se numa modorra irritante e sonolenta.

Embora todas as sinopses falem de descrições de atrocidade como sendo algo que marca o livro, elas são diminutas, aqui e ali pontuadas com alguma crueldade, mas longe de serem extremamente chocantes, pois já tenho lido noutros romances descrições muito mais realistas e cruéis, aliás, facilmente me dei conta de inúmeros clichés na história (as crianças que são arrancadas às mães, famílias separadas, assassinatos a sangue frio).

Um livro muito decepcionante que não faz jus ao marketing que foi criado e muito menos às supostas comparações com outras obras épicas como “Guerra e Paz” conforme li algures. Só alguém de má fé, que não tenha lido a obra de Tolstoi ou um brincalhão, pode comparar a obra de Tolstoi a este “Benevolentes”, aliás, comparar um ao outro é como comparar a “Pirâmide de Gize” ao Centro Comercial das Amoreiras.

No entanto é um livro que exige muito do leitor. Uma aturada atenção página a página assim como uma atenta análise aos pormenores pois, e deixo aqui uma ressalva à minha opinião, este é livro que irá merecer de certo uma posterior releitura da minha parte, pois é um livro, pese embora a minha sincera opinião acima exposta, onde me ficou uma sensação de algo que me passou despercebido, algo como mensagens que me passaram ao lado.

Tal como já anteriormente aconteceu (por exemplo em “O Perfume”), este pode ser um livro cuja minha opinião mude drasticamente aquando da sua releitura, pois sinto que não retirei todo o potencial do livro.

6 comentários:

Célia disse...

Muito sinceramente, não é livro que esteja a pensar ler, pelo menos por enquanto... Quem sabe, um dia!
"O Perfume" é um dos meus livros preferidos de sempre, ainda bem que o releste ;)

ccc disse...

Confesso que já tinha olhado para este livro embora não soubesse de que tratava a história.
Fiquei um pouco desiludida com o que dissestes tendo em conta a mensagem que se tem feito passar quanto a este livro.
A tua opinião está excelente e foi muito útil :) Possivelmente não me vou arriscar a comprar.

NLivros disse...

Eu coloquei a ressalva dando como exemplo o "Perfume" porque este foi um livro que, após a minha primeira leitura, não me proporcionou qualquer tipo de mais valia ou de prazer.

Porém fiquei sempre com a sensação que algo me tivesse escapado e resolvi empreender nova leitua, acabando por descobrir todo um mundo fascinante cheio de metáforas e analogias.

Com este "Benevolentes" tenho uma sensação similar.

Não gostei do livro, aborreceu-me de morte. Porém sinto que algo me escapou, logo, é um livro que quero reler durante o próximo ano. Até lá vou esperar por outras opiniões e, quiçá, algumas trocas de experiências acerca do mesmo, pois isso por vezes é importante para descurtinarmos pistas até á altura escondidas.

NLivros disse...

Olá Sofia.

Não te sintas desiludida, pois, para além do que já referi na opinião e na minha resposta ao comentário da Coanochinha, o que pode ser um bom livro para mim poderá ser o contrário para ti, logo, não te deixes influenciar por esta opinião.

A mesma é fruto da minha percepção vs. aquilo que se tem dito acerca do livro. Após a sua leitura que demorou 4 longos e penosos meses, achei este livro banal, enfadonho e muito longe de ser um clássico, não só pela história como também pela própria escrita do autor que nada tem de especial.

Agora em relação a comprar... enfim, eu não o comprei, ofereceram-me e apenas por isso li-o até ao fim. Porém e com tantos livros para ler, dar cerca de 30€ por ele... enfim, adiante.

:D

ccc disse...

Com tantos livros para ler é necessário tentar fazer-se o filtro daqueles que aparentemente nos possam interessar. Apesar da curiosidade e da prioridade se terem reduzido um pouco, mantenho o interesse. Embora a compra não esteja nos meus planos a curto prazo, há sempre a hipótese de também me ser oferecido.
E quem sabe ainda possamos trocar ideias ;)

Pedro disse...

Não é um livro que me chame a atenção. Quer dizer, já li muitas das comparações a esses grandes escritores, mas mesmo assim não acho que vá pegar nele alguma vez...

Talvez na releitura fiques com uma impressão diferente... Já aconteceu comigo também, mas nem esperei por chegar ao fim... Antes disso, voltei atrás e comecei tudo de novo, e fiquei com uma impressão muito diferente...

O tema não parece ser aborrecido... Mas esses diálogos que não fazem nada são uma desilusão, principalmente se estamos a tentar tirar alguma lição delas... Ou as descrições que podem parecer demasiado pesadas, e num livro assim tão grande é de olhar de lado...

Acho que talvez não gostaste do livro porque tinhas expectativas altas... E acabaste por sair defraudado, desiludido como sendo leitor de obras como "Guerra e Paz" ou "Crime e castigo" (citando alguns dos autores).

Só posso esperar pela tua releitura, se ela acontecer, e esperar que consigas encontrar essas mensagens, essas lições que quase sempre conseguem enriquecer um livro.