sexta-feira, 2 de julho de 2010

Um Instante ao Vento – André Brink


Um livro extraordinário!

No prefácio, Nelson Mandela profere: “estávamos destinados a não nos escutarmos uns aos outros e a nós próprios, nem o nosso mundo, excepto nos termos censurados e limitados que foram determinados e impostos”.

Com esta frase Mandela bate no cerne do livro. A opressão imposta por um sistema absurdo que considerava a maioria significativa do seu povo como escrava.

A premissa do autor é valiosa. A história aqui narrada é assente em factos verídicos que o autor transporta para a África do Sul. Brink imagina o que eventualmente poderia ter sucedido entre um negro foragido e uma mulher branca perdida.

Nessa viagem o resultado é a descoberta deles próprios e de uma nação nascida de um sistema profundamente racial que, além de tiranizar, forçava ao silêncio, à desigualdade e à diferença.

Escrito em 1976, no período vigente do Apartheide, Brink lança um grito angustiante de revolta face às tremendas injustiças que há muito a África do Sul havia mergulhado e que, parece-me, tarda em resolver.

O livro é uma espécie de considerando sobre esse absurdo sistema racial. A história de Adam e Elisabeth acaba por se tornar numa metáfora de que o autor se serve para fazer desfilar, de uma forma tremendamente séria, honesta e sincera, algo que nos choca e cuja pergunta que emerge é: Como foi possível?

Uma obra comovente, brilhantemente bem escrita que nos consegue situar e sentir o pulsar quente de África com as suas descrições belíssimas, tanto de paisagens, como de situações sensuais que se tornam felizes manifestações de humanidade.

Um livro que merece destaque pela sua qualidade e, na minha opinião, destinado a ser um dos Livros de 2010.

4 comentários:

susemad disse...

Interessante. Esta tua opinião conseguiu convencer-me a olhar para este livro com outros olhos. Não era de todo um livro que alguma vez pensasse em ler... Fez-me lembrar um livro também muito bom da autora Nadine Gordimer, "Um Capricho da Natureza”. Este também com um retrato muito forte sobre o Apartheid.

Teresa Santos disse...

E não é que fiquei com imensa curiosidade?!
Tal como o tonsdeazul, estamos perante um livro que nunca faria parte da minha listagem de novas aquisições mas agora, tenho que espreitar.

NLivros disse...

Ora viva minhas caras.

Eu confesso que tive um súbito impulso por este livro. O autor não me dizia nada assim como, confesso, pouco me diz o Apartheide pese embora tenha conhecimento, de uma forma larga, o que foi, no entanto assim que agarrei o livro e li a sinopse tive uma imensa vontade de o ler.

E acreditem que estamos diante de um grande livro e, repito, um sério candidato a Livro de 2010. Das trezenas de livros que li este ano este é, de longe, o melhor.

Não tenham receios, avancem!

cris disse...

Com este comentário tenho mesmo que ler!!!! Vai directo para aminha lista de livros a ler...Boas Leituras.
http://otempoentreosmeuslivros.blogspot.com