domingo, 15 de julho de 2018

Uma Longa Caminhada: Memórias de um menino soldado - Ishmael Beah


Em 1991 estala a guerra civil na Serra Leoa que só terminaria em 2002.

De uma forma muito geral, a guerra civil inicia-se por um grupo extremista denominado RUF (Frente Revolucionária Unida), também conhecida por rebeldes. Obviamente que por detrás dessa guerra, existia vários interesse de cariz económico, pois se a Serra Leoa fosse um país de fracos recursos, de certeza que não iria aparecer alguém contra o poder estabelecido e disponível para encetar uma terrível guerra que iria causar a morte a milhares de pessoas.

Independentemente das razões desse conflito, que qualquer pessoa pode pesquisar na internet, este livro aborda algo que sempre foi e sempre será muito usual, que é a utilização de crianças como soldados e a forma como se tornam inumanas à medida que o sofrimento e a sensação de perda invade as suas vidas.
Ishmael Beah foi assim uma dessas crianças que viu a sua infância perdida em prol de uma guerra que não entendia.

Obrigado a fugir da sua aldeia, Ishmael perde toda a família, assassinada pelos rebeldes, e, mais tarde, vê-se incorporado no exército nacional em que a sua missão seria combater e matar rebeldes.

De uma forma gradual, vamos assistindo a transformação de Ishmael de criança para um terrível assassino que mata sem piedade, drogando-se diariamente e fazendo dessa vida um vício, pois, mais tarde quando é salvo daquele inferno pela UNICEF, ele tem imensa dificuldade para reaprender a viver como um Ser Humano.

Este é pois um relato pungente do percurso de Ishmael e a forma como ele foi recrutado e como se transformou numa máquina de guerra com apenas 15 anos. Relatos atrozes do que ele fez, como matou e viu morrer, relatos dignos de qualquer filme de terror e que é difícil imaginarmos, pois são factos que vamos lendo por aí mas que julgamos sempre não suceder.

Mais impressionante é perceber que Ishmael foi apenas mais um. Não daquele conflito, mas de inúmeros. Hoje em dia, nos vários conflitos que existem no planeta, sabemos que existem crianças soldados e é impressionante perceber o que elas são obrigadas a fazer e a assistir e ficamos com a ideia que é completamente impossível voltarem a ser “normais”, pois depois de terem assistido e cometido tantas atrocidades, é impossível um Ser Humano ficar normal.

“A matança tinha se tornado uma atividade diária. Eu não tinha pena de ninguém. Minha infância tinha passado sem que eu soubesse e parecia que meu coração havia congelado.”

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