O Evangelho Segundo Jesus Cristo nasce, segundo o próprio Saramago, de uma visão tida em Sevilha, onde o autor julga ver escrito numa capa de revista o título "Evangelho Segundo Jesus Cristo", posteriormente tem o "tal" click em Bolonha, cidade onde ele escreve os primeiros apontamentos.
Saramago assume-se como ateu!
Assim e de uma forma racionalista que desde logo vai de encontro à filosofia catalólica, porque essa filosofia não se pode dizer que seja racionalista, ele tem a coragem de escrever sobre a vida de Jesus Cristo, mais, ele aborda o Evangelho bíblico de um ponto de vista humano, ou seja, ele aparta-se daquele ser divino para o tornar num simples ser humano que tem a sorte ou o azar de se encontrar com Deus e o Diabo. E o homem tem mesmo azar porque senão veja-se: Ele é o mais velho de 8 filhos de José e Maria (eram doidos para a brincadeira) e com tantos filhos logo tinha que ser ele a andar nas "bocas" do mundo?
E Saramago não recua: O anjo passa a mendigo, os reis magos são apenas pastores e até Maria Madalena (uma das heroínas de Saramago) é uma mulher com uma antiga profissão e que adora "ensinar" os prazeres carnais a Jesus.
Encontros e desencontros com um Deus feroz, vingativo, maldoso e que tem uma vasta colecção de mártires que morreram atrozmente em seu nome. Aí percebe-se claramente a aversão de Saramago à Igreja e tem um quê de Nietzsche (digo eu!). Um Diabo que veste a pele de um pastor cuja maior diversão e, precisamente, "divertir-se" com as suas ovelhas, mas que até dá bons conselhos a J.C.
Em suma: com Deus, J.C. conhece a fúria e a miséria, com Maria Madalena conhece os prazeres do corpo e o prazer da paixão, com o Diabo, aprende a conhecer o mundo que o rodeia.
Um romance que só escandaliza os fracos de espírito. Independentemente de sermos crentes ou não, isso não impede de pensar, interpretar e avaliar esta obra notável.
É por causa deste romance que Sousa Lara retira o nome de Saramago da lista de concorrentes ao Prémio Literário Europeu... Hipócrita!
Cada um faça o seu próprio juízo, no entanto, penso que Portugal se deve orgulhar deste grande escritor e da sua obra.
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