domingo, 29 de julho de 2007

Vinhas da Ira (As) - John Steinbeck

No dia 24 de Outubro de 1929 dá-se um crash na Bolsa de Valores de Nova Iorque, esse dia ficará conhecido por Sexta-feira Negra. Seria o início da Grande Depressão que devastou a sociedade americana e teve também repercussões violentas por todo o mundo. As primeiras vítimas dessa depressão, são os proprietários rurais que viram as suas exportações diminuírem até à quebra total. Na impossibilidade de rentabilizarem os campos, esses proprietários viram-se também na impossibilidade de liquidarem as dívidas que haviam contraído no período de euforia, vendo então os campos serem hipotecados pelos bancos. Com as terras confiscadas e sem meios de sobrevivência, esses proprietários não tiveram remédio que abandonar essas terras e partir em busca de um presente e um de futuro melhor.
Essa crise no campo reflectiu-se nas cidades e depressa o desemprego começou a subir, pois milhares de empresas foram à falência. De realçar que em 1933 havia 14 milhões de desempregados nos E.U.A..
E é precisamente a Grande Depressão o principal tema desta obra.
Obra perturbante, narra a epopeia da família Joad, uma família rural americana que vê as suas terras confiscadas pelo banco devido ao incumprimento do pagamento da dívida. Assim e possuindo apenas um velho camião, iniciam uma viagem apenas de ida com destino à Califórnia em busca de trabalho.
Curioso verificar que muitos críticos literários encontram semelhanças entre a epopeia dos Joad e o Êxodo bíblico. Desconheço se Steinbeck o fez propositadamente, mas o certo é que as semelhanças existem, pelo menos no objectivo final: A terra prometida.
Nessa odisseia, lado a lado com outras milhares de famílias que procuram alcançar os mesmos objectivos, Steinbeck efectua uma análise profunda a essa sociedade, quer na componente psicológica das personagens (povo), quer na componente política.
Em todo o livro existe uma clara intenção e preocupação pelo detalhe, sobretudo no que respeita às relações humanas e é aí que o romance ganha a sua verdadeira dimensão. Basta ver que perdem a terra que lhes dava o sustento, são escorraçados e mesmo assim nunca desistem. Por muitas contrariedades que surjam, e pelo menos dois membros da família morrem e são enterrados no caminho, esta família nunca vira a cara à luta e está sempre na disposição de lutar, na disposição de contrariar os abusos e as humilhações que constantemente lhes infligem.
É extraordinário a forma como Steinbeck aborda o problema. A força dessa família e de tantas outras na mesma situação sobressai, sentimos essa força e conseguimos compreender o sofrimento dessas almas, no entanto, ainda existe espaço para a amizade, para a solidariedade, a ideia de comunidade está sempre presente, essa força interior que simboliza um ideal de nação.
Uma obra muito importante no panorama literário, que deve ser lida com muita calma, sendo certo que o leitor deve possuir alguns conhecimentos da história dos Estados Unidos dessa época, considero mesmo a obra de leitura não muito acessível, pois é efectivamente um romance cheio de símbolos políticos onde Steinbeck tinha efectivamente segundas intenções quando o escreveu.
"Nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as Vinhas da Ira crescem e espraiam-se pesadamente, pesadamente amadurecendo para a vindima."

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