Provavelmente que mais de meio mundo já viu o excelente filme realizado por Steven Spilberg em 1993 e que lhe valeu 7 óscars da Academia de Hollywood. Esse filme retractava a acção de Óskar Schindler durante a II Guerra Mundial, quando na Polónia ocupada pelos nazis, monta uma indústria suportada por mão de obra judia e assim consegue salvar da morte milhares de judeus.
Este livro, escrito pelo escritor australiano Thomas Keneally, é precisamente o "documento" que deu origem ao filme de Spilberg.
E afirmo "documento" porquê?
Porque conta a história verídica de Óskar Schindler, empresário alemão que conseguiu, mediante o emprego na sua fábrica, salvar a vida a milhares de judeus que assim escaparam aos campos de extermínio nazis.
E parece que a origem do livro surge um pouco por acaso.
Pelo que li, foi em 1980, quando Keneally efectuava compras em Beverly Hills que conheceu Poldek Pfefferberg, dono da loja onde se encontrava. Conversa puxa conversa e Keneally fica a saber que Poldek era judeu e um dos que haviam sido salvos por um tal de Óskar Schindler.
É este o ponto de partida.
Interessa-se pelo assunto e é a partir de Poldek que consegue encontrar e entrevistar cerca de cinquenta pessoas que haviam sido salvas por Schindler e que o haviam conhecido. E basicamente o livro é isso mesmo; assente em história verídicas, Keneally constrói o percurso de Schindler durante o conflito mundial. A forma especuladora, os pactos e amizades, o ódio que nutria pelos nazis e a vergonha que sentia pela política do "seu" governo, é algo que salta à vista. Mesmo assim os seus jogos de interesse sobrepõem-se a tudo isso e é precisamente por isso que Schindler não pode ser visto apenas como um "bom samaritano". Embora ele tenha salvo muitas vidas, em parte fê-lo porque também precisava delas para alcançar os seus objectivos. Embora de uma forma algo leve, o livro mostra um pouco dessa faceta.
O certo é que o livro é realmente um documento pungente do Holocausto. Ao contrário de outros que já li: "Treblinka" e "Se isto é um Homem", em "A lista de Schindler" não conhecemos os campos de extermínio, mas sim a vida dos judeus que se vêm, de repente, cercados por arames farpados e delimitados a uma certa área, um género de campo que antecede os campos de extermínio. Ou seja, é a partir desses campos que eles são depois enviados para os de extermínio. Assim essas pessoas vêm-se sem nada e sem esperança, sempre na contingência de morrer. Keneally, nitidamente de propósito, usa o livro como um alerta futuro para a humanidade, pois narra com uma impressionante minuciosidade algumas das atrocidades e assassinatos cometidos pelos nazis. Foi dos poucos livros em que tive de parar por diversas vezes, pois as barbaridades, os horrores eram tão grandes que me inquietavam e me repugnavam, parecendo que ouvia os gritos das mulheres e das crianças...
E é precisamente por todas aquelas atrocidades, contadas ao pormenor e com um requinte algo macabro, que me recuso a dar nota máxima ao livro. Está efectivamente muito bem escrito, podem até dizer, tal como eu, que é um género de exorcismo de todo aquele horror, mas é que o escritor ao não nos poupar, fez com que tivesse que viver tudo aquilo e, as minhas horas de leitura que são sempre horas de lazer, transformaram-se em horas de guerra onde constantemente era assaltado pelos fantasmas das vítimas. Ou seja foi muito cansativo!
Esta é a minha sincera opinião. Um documento histórico belíssimo, mas muito violento e pesado, não aconselhável a espírito sensíveis.
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