Classificar o género literário de um livro não é, grosso modo, tarefa complicada de ser efectuada, no entanto há aqueles que podem pender para diversos géneros ou, se quiserem, terem elementos de diversos géneros que fazem dele uma espécie mesclada sendo esse o caso desta obra.
A escrita de David Soares é sublime e, confesso, iniciei a leitura desta obra com alguns preconceitos dada a colagem do autor ao género fantástico. Porém, poucas páginas lidas, sentia-me completamente rendido à sua escrita e ao humor que transpira, completamente inserido no contexto, sentindo que fazia parte da narração, pois umas das características da sua escrita é a forma credível e cinematográfica como consegue “pintar” os personagens.
Contendo elementos de romance histórico, horror, thriller e fantástico, este é um romance que se vai dividindo em capítulos fragmentários entre dois personagens com acções temporais diferentes mas que se irão unir no mesmo local e com um assunto em comum: o Mito Sebático.
Fernando Pessoa e Aleister Crowley foram dois personagens com características e personalidades muito diferentes. Fernando Pessoa, vivendo uma existência algo utópica onde os seus heterónimos eram braços da sua entidade. Espantosa a forma como David Soares humaniza o poeta, colocando-o, por exemplo e entre outras imagens, a masturbar-se ou a ter sexo furtivo com a “sua” Ophélia.
Aleister Crowley, mágico famoso, fanfarrão, é um bon vivant que tem uma vida sexual orgástica em nome da magia. O interesse pela magia irá unir estes dois homens numa Lisboa, ela própria misteriosa, mágica, povoada por lugares iniciáticos e herméticos.
E é Lisboa que ocupa um dos lugares mais destacados do livro. David Soares pinta-a num fresco admirável, colando-a com a bela e encantada vila de Sintra que, conjuntamente com a sua Quinta da Regaleira, brilha intensamente por toda a obra.
Todo o trabalho narrativo é envolvente. Confesso que não apreciei alguns elementos de fantasia pura, sobretudo os referidos à Irmandade dos 300 ou a Francisco de Ollanda, no entanto e embora o autor assuma a obra como pura ficção, ela é um mimo biográfico no que respeita a estes dois personagens, no que nos diz respeito, a Fernando Pessoa.
Por último achei espantosa a secção final onde o autor explica a lógica do romance ilustrando com imagens reais. Num livro riquíssimo, a secção final é algo de diferente, uma espécie de meiguice com o leitor, impossível não nos sentirmos recompensados.
De leitura compulsiva e viciante, este é um romance que pode em alguns momentos aborrecer o leitor dada as informações alquímicas que servem de base para construir o puzzle, assim como causar estranheza algumas das imagens que o autor nos lança (por exemplo quando ele refere a coprofagia de Crowley), mas é sem dúvida um romance que nos envolve, que nos embala, delicioso.
1 comentário:
Bom dia.
Queria pedir-lhe se poderia divulgar e criticar o meu livro, Mistério em Connellsville.
Todas as informações em www.misterioemconnellsville.blogspot.com
Com os melhores cumprimentos.
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