quarta-feira, 27 de junho de 2007

Maias (Os) - Eça de Queirós

Para mim é extremamente complicado falar, opinar sobre Eça de Queiróz e sobretudo sobre a sua obra prima "Os Maias" (como subtítulo: "Episódeos da vida romântica"), porque simplesmente por muito que fale, divague ou discuta, são poucas as palavras para exprimir o seu génio e a sua grandeza.

A minha paixão por Eça de Queiróz vem, ao contrário do que se poderia pensar, dos tempos de liceu quando fui obrigado a ler "Os Maias". Afirmo obrigado porque e naquela altura, andava mais interessado em obras de aventuras como "O conde de Monte Cristo" (grande obra), "Ivanhóe" ou aqueles livrecos de terror da colecção "Pêndulo". Bom, o suplício foi de pouca duração porque à 10ª página já eu me tinha apaixonado, sobretudo pela forma de escrita.

Desde essa altura, e já lá vãos uns anitos, já li o livro por mais três vezes, e o fascínio continua a ser o mesmo.

Quanto ao romance: Eça narra as aventuras e desventuras de uma família lisboeta ao longo de três gerações, onde a sociedade da época, com todos os seus defeitos e virtudes, é descrita de uma forma irónica, mordaz e bastante real, pois sabe-se que Eça era um homem profundamente realista, gostava de escrever o que via e sentia de uma forma coerente (pensou inclusivé em descrever a sociedade portuguesa ao longo de 12 romances). Assim, toca nas feridas da sociedade portuguesa da época (??), expondo toda a futilidade, a vaidade, o cinismo, a hipocrisia e o ridículo (tão actual!!)

É igualmente interessante focar a sublime ironia com que Eça narra alguns acontecimentos, nomeadamente uma situação entre o Eusebiozinho e Carlos da Maia ou as situações de João da Ega... soltei gargalhadas profundas.

Por falar em João da Ega, cada vez mais me convenço que Eça serve-se de Ega para se auto-retratar, pois atente-se como ele descreve João da Ega: "O esforço da inteligência (...) terminou por lhe influenciar as maneiras e a fisionomia; e, com a sua figura esgrouviada e seca, os pêlos arrebitados sob o nariz adunco, um quadrado de vidro entalado no olho direito — tinha alguma coisa de rebelde e de satânico".

A nível do texto literário, a forma como consegue sugerir as formas, as cores, as paisagens ou os cheiros, é simplesmente genial. A forma e a facilidade que descreve comportamentos humanos, onde facilmente nos apercebemos das alegrias, tristezas e do tédio. Recordo-me da descrição de Sintra... é estonteante, um concerto de beleza!

Claro que a história não se resume apenas à história de 3 gerações e dos costumes da sociedade. Mas peço desculpa a quem esperava uma descrição da estória dos "Maias", para mim, a beleza da obra está no que anteriormente referi.

Cada leitor sente o livro à sua maneira, tentei descrever a sensações que ele me provocou, mas e como referi logo de início, é muito difícil para mim opinar sobre esta grandiosa obra, porque tudo o que posso afirmar é pouco para exprimir o que senti.

6 comentários:

Pedro disse...

Bem, a minha paixão por Eça de Queirós já vem de há muito tempo...

Na verdade, foi o princípio do meu leitor mais ávido, mais ansioso. "O Primo Basílio" li pela primeira vez e descrever o quanto me marcou é difícil. Cheguei a invejar a escrita de Eça e eu próprio criei uma história (muito parecida com o Primo Basílio lol), de tal maneira estava inspirado. É como dizes, é complicado exprimir o quanto admiramos o génio deste autor e a sua escrita.

A partir daí, foi ler tudo dele. "A Capital" é o meu segundo livro preferido (não sei se já leste... Mas aposto que também vais adorar, não é o mais falado do Eça mas é fantástico, na altura em que o li foi o que mais directamente me descreveu a nossa sociedade - e todo, todo o livro é uma autêntica ironia! Se ainda não leste, trata de o fazer em 2010). "A Cidade e as Serras", "O Crime do Padre Amaro", "A Relíquia", "O Mandarim", "Alves e Companhia", "O Conde de Abranhos" (peço desculpa, mas este avancei páginas, não era mesmo para mim). Quando cheguei à Ilustre Casa de Ramires não consegui acabar, já estava saturado de Eça.

Hoje pego nos Maias, depois de tanta espera (quis esperar pela obrigatoriedade), e tal como tu só tive de esperar 10 páginas para não o conseguir largar.
Gosto particularmente da história de Pedro e Maria Monforte, e embora seja breve "paira" o romance inteiro.

Vai ser o meu primeiro livro de 2010, e já é dos melhores!
(relembrando, o primeiro livro de 2009 foi "Equador", e é sem dúvida dos meus preferidos...)

NLivros disse...

Grande Pedro!

Partilhamos a paixão por Eça, para mim, um dos maiores génios da literatura universal. Repara, afirmo universal e farto-me de perguntar: Olha se ele tivesse sido americano, francês ou inglês?

O romance que mais aprecio é, de longe, os "Maias". Já o li umas 5 vezes e duas vezes o "Crime do Padre Amaro" e o "Primo Basilio". Li a "Reliquia", os "Contos", "Conde de Abranhos", que gostei, "Mistério da Estrada de Sintra" e não me recordo de ler a "Cidade e as Serras" e a "Capital", mas penso que os tenho em casa, penso.

Sabes que, para mim, Eça nunca é um autor lido. Ou seja, embora ainda não tenha lido tudo dele, sinto que Eça é para se ir lendo, não só para nos sentirmos no Portugal e na sociedade de Eça como para nos deixarmos enlaçar pela suas belas palavras.

Espero que te "divirtas" com a maior pérola literária de Portugal e espero que 2010 te traga melhores leituras.

Um abraço!
Miguel

Pedro disse...

Sinceramente, tenho muita pena de não ter nascido naquela época =(

(esquecendo o facto de ter chorado baba e ranho quando o Pedro se suicidou, coisa que aliás eu sabia que ia acontecer, mas que mesmo assim não consegui evitar!!!)

Estou a ler e a amar o livro. E é mesmo com uma grande tristeza que vejo que estou em 2010, e não em 1875. Adorava viver naquela época, estar com os Maias, na cidade de Lisboa, de outrora, ter aquela vida. Que suspiro.

É um livro que, mesmo quando estou maldisposto, me alegra imenso. Estou apaixonado!

(já agora, Eça era ainda mais perspicaz do que eu pensava! Não só é a sua crítica à sociedade portuguesa da época, mas o homem era um génio ao profetizar que "estes empréstimos levarão o país à bancarrota", ou mesmo o caso ibérico, que por acaso ainda hoje se nota muito - não vemos constantemente os espanhóis a querer fazer negócio em Portugal? Chegaram a comprar a TVI for God sake! De génio este homem)

NLivros disse...

Grande Pedro!

Eça é apaixonante e, curiosamente foi por causa dele que me apaixonei pelo séc. XIX e por esse Portugal tão bem retractado por ele, sobretudo a sociedade lisboeta.

Nota que delícia quando ele descreve o passeio a Sintra, onde param na Porqueira (Rio de Mouro). Vão de carruagem e demoram dois dias. Depois há descrições belíssimas de Sintra, e convido-te a ires aos locais por ele descritos e é com assombro que irás constatar que quase nada mudou. Arrepiante!

Sobre o facto de Eça profetizar alguns dos males da nação, não te esqueças que é dele alguns dos textos críticos que, hoje em dia, estão actuais. Porém é necessário não esquecer que Eça estava por dentro da política, pois ele era embaixador e sabia de muita coisa.

Pedro disse...

Pois é... Acabei "Os Maias"!

O que dizer?

Epá... Olha, primeiro que tudo: este é sem dúvida um dos meus livros preferidos. De sempre.

Acho que nunca um livro que deixou tão triste da vida que tenho e imaginar como seria ter nascido naquela época =P A sério, nada me deixa mais triste do que não ter vivido em 1875...

Adorei todas as personagens.

Cheguei a idolatrar Carlos da Maia. E quando digo "idolatrar", não estou a querer poupar a palavra. No entanto... Não gostei nada da atitude dele no fim. Foi um cobarde. Bolas!
E eu a pensar que ia ficar desiludido com a maneira como acabava, com essa tão trágica conclusão de Ega e Carlos. Mas só o "americano" para passar à sua frente! Foi de génio!!!

Ega... É uma personagem deveras impressionante. Acabei por adorá-la no fim. Mas havia alturas em que detestava a sua atitude egoísta, a sua garganta que sabe falar demais, assim como o cérebro que não pensa em outra coisa senão em si próprio. Entretanto, lá haviam alturas em que me deixava fascinar por ele, e verdadeiramente o admirava. Mas acho que foi das personagens mais difíceis de se gostar. No fim é magnífico, mas durante a trama toda tem as suas manias!

Mas se houve alguém de quem não me vou esquecer será do Craft. Não sei bem porquê, mas esse gajo impressiona-me imenso.

Extremamente solene o momento final de Afonso da Maia. Custou-me dormir ao lembrar-me da evocação de Eça ao velório, à morte, a tudo o que daí deriva. Pesado.

Encantei-me com o amor de Carlos e Maria Eduarda. Maravilhei-me com a época.

Olha, sem dúvida, um livro que me agarrou. Intensamente.

Anónimo disse...

Já me viciei neste blog!
É ultra charmoso a escrita de vocês portugueses, lindo de ler!!!
Fico assistindo o dialogo entre vocês dois (Iceman e Pedro) e o fascínio persiste...
Viva Portugal, como dizem aqui em meu país, nossa pátria irmã!
Percebi algo: os homens portugueses leem mais do que os homens brasileiros, curioso isso.