quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Último Távora (O) - José Norton

Pedro de Almeida Portugal, 3.º marquês de Alorna e 6.º conde de Assumar, nascido em Lisboa em 1754, viu toda a sua família ser quase toda eliminada em 1759 por ocasião do célebre processo dos Távoras. No entanto esse processo decretou a prisão do seu pai, mãe e irmãs durante 18 anos, tempo em que Pedro foi criado sob a protecção daquele que esteve por detrás de todo o processo: Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.

Descendente da uma família maldita, Pedro irá sentir toda a vida a perseguição de inimigos invisíveis que, na sombra, desenvolvem acções que minam a reputação que Pedro consegue conquistar.

Marquês da Alorna (embora descendente dos Távora, era-o por parte da mãe, pelo que herdou o título do pai, no entanto isso está muito bem explicado neste livro), título da velha aristocracia, os Alorna ocuparam durante várias gerações lugares de destaque em vários sectores do reino, lugares que trouxeram prestígio e riqueza à sua casa, mantida também com casamentos com outras casas nobres, construindo assim uma forte rede de interesses e influências que abarcavam todo o império português.

Filho de D. João de Alorna e de D. Leonor de Távora, uma das filha dos marqueses de Távora, Pedro, como primogênito, logo ficou com o futuro definido.

Estava destinado a altos postos ao serviço do rei. No entanto os acontecimentos posteriores ao Terramoto de 1755 iriam alterar esse destino.

Terá assim uma vida rica em acontecimentos que o levam a manter relações muito próximas com o príncipe D. João. Através desses contactos, D. Pedro vai ocupando lugares de liderança no exército português até às invasões francesas em 1808 quando é nomeado como um dos comandantes das forças portuguesas. A partir dessa data inicia um novo capítulo da sua vida que o irá levar a conhecer pessoalmente Napoleão e comandar nove batalhões portugueses nessa terrível e famosa campanha.

Pessoalmente desconhecia a presença de tantos soldados portugueses na campanha da Rússia de 1812, mas o autor descreve minuciosamente todo o processo de envolvimento dos batalhões portugueses e dos seus comandantes, dos quais fazia parte o Marquês de Alorna. E aqui faço a ressalva para a forma como os portugueses eram vistos e tidos pelos fanceses: Soldados de coragem e bravura. Napoleão sobre isso escrevia na sua proclamação de 7 de Setembro diz, referindo-se a Borodino: “Que a posteridade mais remota cite com orgulho a vossa conduta neste dia.”

Este livro surpreendeu-me bastante.

Antes de mais é um excelente documento histórico. Para além da enorme capacidade narrativa demonstrado pelo autor, é-nos oferecido um documento Histórico que abrange 50 anos de uma época importantíssima na Europa.

Começa por nos situar na época descrevendo o processo dos Távoras e o porquê do mesmo.

Achei também curioso e imensamente interessante a forma narrativa do autor.

Na prática torna-se um documento de pura História onde o autor descreve o sucedido, porém nunca se coíbe em colocar diálogos entre os personagens, ou seja, este livro é uma mescla brilhante entre documento Histórico e romance.

Surpreendeu-me também pelas várias histórias. As ligações familiares, as intrigas políticas, as mesquinhices do Portugal setecentista. O porquê das invasões francesas, a intervenção de soldados portugueses em várias campanhas de Napoleão, etc.

É um livro belíssimo sobre um homem e uma época. Uma época que marca a Europa e que traz ventos de mudança, e um homem que viveu com uma cruz. Lutou imenso e tentou sempre elevar a condição da sua casa: os Alorna.

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