domingo, 23 de março de 2008

Filho de Deus - Cormac McCarthy

Lester Ballard, vagabundo solitário, vive de expedientes à parte da sociedade, sobrevivendo de uma forma selvagem, cometendo diversos crimes macabros a fim de satisfazer desejos e taras sexuais.

Visto como Ser menor e com tolerância pelos habitantes do lugarejo, Lester desconhece a amizade, fraternidade a solidariedade, vivendo uma existência despovoada, completamente alienada.

Vivendo numa casa abandonada, Lester comete uma série de crimes que colocam em polvorosa toda a vila. No local, embora todos desconfiem da culpabilidade de Lester, ninguém tem a certeza pois, simplesmente, os corpos desaparecem, escondidos algures...

Uma das curiosidades desta obra (tem muitas), é o facto de à medida que o romance avança, pese embora a violência das descrições dos assassinatos e até na forma como Lester se comporta, irmos criando uma crescente simpatia pelo personagem. Mesmo sendo um homem asqueroso, mau, violento e indigno, vamos percebendo que o mundo de Lester não podia ser outro face à sua própria realidade, um fruto da sociedade que agora paga todos os anos de formação.

À semelhança de outros livros que li de Cormac, o autor consegue passar-nos sensações dispares, demonstrando também até quando um homem que se vê privado de amor e educação, obedece a necessidades naturais usando instintos primitivos. Ou seja, no personagem Lester, Cormac espelha qualquer ser humano. A diferença entre Lester e qualquer um de nós, é apenas as realidades de cada um que fazem com que o desenvolvimento faça-nos tomar rumos diferentes, ou não, pois Lester há por ai aos milhões.

Este livro é, quanto a mim, uma excelente metáfora acerca da “Alegoria da Caverna” de Platão.

5 comentários:

Pedro disse...

Parece ser uma leitura merecedora... Mas ainda não é desta que vai entrar na minha lista...

NLivros disse...

Viva Pedro.

Ler Cormac é uma experiência única, sobretudo quando entramos nos seus mundos.

Pessoalmente adorei a "Estrada", os outros que li, nomeadamente este "Filho de Deus", "Guarda do Pomar" e "Meridiano de Sangue" não gostei muito, interessantes, sem dúvida, mas aquém da "Estrada".

No entanto penso que é um dos melhores escritores da actualidade.

Cump.

Pedro disse...

Iceman, mal li a tua opinião sobre "A Estrada" adicionei o livro à minha lista!
Portanto, espero sem dúvida vir a apreciar tanto do livro como tu! ;)

Como nunca li McCarthy, foste tu que me deste o impulso de experimentar! Obrigado.

Um grande abraço

Joana Pinto disse...

Olá!

Também já lia a "Estrada" e posso dizer-vos que foi um dos melhores livros que li até hoje.
Gostei muito do post e fiquei curiosa para ler este livro, pois C.McCarthy sabe, melhor do que ninguém, explorar cenários inóspitos e sentimentos atrozes.

NLivros disse...

Olá Joana!

De facto a "Estrada" não é só um excelente livro como é também, na minha opinião, já um dos clássicos da literatura e uma obra que é obrigatório ler.

Este Filho de Deus tem o cunho de Cormac e está mais dentro da linha do "Meridiano de Sangue"-