Dono de uma forma de se expressar extremamente mordaz mas bem objectiva, Esteves Cardoso era bastante corrosivo na forma como elaborava as suas análises, quer aquelas proferidas no programa de tv, quer as outras que foi escrevendo para os jornais.
E são precisamente algumas dessas crónicas, nomeadamente algumas publicadas no “Expresso” entre 1986 e 1987, numa coluna chamada “Os meus problemas”, que compõe este livro que tem tanto de brilhante como de hilariante.
Assim, este livro é simplesmente um conjunto de crónicas onde Esteves Cardoso opina sobre a forma de estar, ver e agir do povo português, evidenciando as suas mais carismáticas manias e fobias, sempre num tom irónico e mordaz.
Começando por “Cartas portuguesas”, as “classes automóveis”, “libertação dos maridos”, “a fogueira do ciúme”, “adeus, ó tchau, vai-te embora”, enfim, acreditem é dos livros mais hilariantes que já li e ao mesmo tempo, um livro que toca em vários defeitos do povo português. Pese embora as distâncias, um género de Woody Allen.
E é curioso constatar que não é necessário escrever-se livros sérios, estudos filosóficos do “ser português”, pois qualquer um em a capacidade de análise e de formar opinião, no entanto, Miguel Esteves Cardoso demonstra uma capacidade de análise que vai além dessa simplicidade, ele, para além de evidenciar alguns dos “nossos” defeitos, demonstra o quão ridículo e caricata são muitas das situações que se sucedem dia após dia e, mais importante, a gravidade e importância que se dão a essas situações.
Não sei se me fiz entender…
Demonstrando que não é necessário ser um génio despótico para se imitir qualquer tipo de análises, Esteves Cardoso lega-nos um conjunto de crónicas extremamente bem elaboradas e com alvos bem definidos.
Grandes gargalhadas que se soltam daquelas páginas.
5 comentários:
Não leio este tipo de livros, mas vou encaminhar a sugestão para o meu pai, que é fã!
Boas.
Esta é daquelas opiniões que há muito estão escritas e que foram publicadas noutros locais.
Já não leio Miguel Esteves Cardoso há muito tempo, mas recordo-me que me divertia imenso com os seus livros, pois revia o povo português em tudo o que ele escrevia.
Penso que vale a pena passar pelos seus livros, embora hoje em dia estejam um pouco desactualizados, pelo menos algumas crónicas.
Um abraço
Fizeste-te entender, aliás, como sempre que aqui venho!
Também gosto do MEC e do Rui Zink.
Gostava de ler outra vez a tua opinião sobre O Número de Deus do Corral. Lembras-te? Não queres colocá-la? Seria porreiro, pá!
Um abraço,
Victor Figueiredo.
Olha o caro Victor.
Colocarei, nos próximos dias, a opinião sobre o Número de Deus. De facto adoraste o livro.
Um abraço
Nuno
Por sugestão de um bom amigo, tive a oportunidade de ler (ou melhor, devorar) este livro há bem pouco tempo!!
Não sou grande apreciadora de crónicas, se bem que estas me cativaram de imediato!
Concordo totalmente contigo e acrescento a intemporalidade do que é nelas retratado - passaram quase duas décadas entretanto e continuamos a ver-nos, Portugueses, retratados naquelas palavras!
Excelente e recomendável!
*
Enviar um comentário