Em Janeiro de 1692, na comunidade puritana de Salém, Nova Inglaterra, Elisabeth Parris de nove anos e Abigail Williams de onze, começaram a exibir comportamentos menos próprios. Numa comunidade onde às crianças não era permitido ter infância, onde os problemas próprios da adolescência não era tolerado nem compreendido, estas duas crianças, de um momento para o outro, começaram a apresentar desvios comportamentais preocupantes e chocantes. Blasfemavam, tinham ataques apoplécticos convulsivos, gritavam histericamente e, aparentemente, entravam em estados de transe profundos, tendo também visões de seres diabólicos. Logo, uma série de meninas, com idades diferentes mas todas com menos de vinte anos, começaram a apresentar comportamentos semelhantes, deixando aquela estranha e fechada comunidade em pânico.
Não me cabe aqui apresentar explicações para esses comportamentos, mas é importante referir que Salém, enquanto comunidade puritana com uma série de costumes que faz lembrar os Mórmons, deixava um papel social aos jovens muito diminuto, pois e imagine-se, nem era permitido às crianças brincar, uma criança que brincasse com bonecas era alvo de suspeita de praticar artes proibidas.
No entanto e na altura esse comportamento não foi alvo de qualquer estudo sociológico, aliás, apercebi-me que esse problema mal saiu daquele circulo de Salém, então, incapazes de determinar qualquer causa física para os sintomas e comportamentos das crianças, os médicos concluíram que as crianças estavam sob a influência de Satanás, estavam possessas.
Os puritanos acreditavam em poderes místicos e, de facto, a explicação mais plausível na altura, era que os ataques vinham do próprio demónio que, e eles acreditavam piamente nisso, errava pelos campos tentando encontrar forma de corromper as puras almas cristãs e o reino de Deus.
Muito importante também registar os enormes problemas sociais que lavrava nesse tempo. Os vizinhos suspeitavam-se mutuamente, havia famílias inteiras a ódio com antigas rixas por resolver, enfim, um ambiente propício para criar um clima de medo e terror que nasceu em Janeiro de 1692.
Assim, e como era tradição, orações e jejuns foram organizados pelo Reverendo Samuel Parris, pai de Betty e tio de Abigail. Para descobrir a identidade das bruxas as crianças foram pressionadas para dizer nomes, e assim começaram por nomear três mulheres: Títuba, escrava do Reverendo Parris, Sarah Good e Sarah Osborne, todas elas mulheres pobres e mal vistas na comunidade.
E então essas meninas tomaram o gosto pelas denúncias.
A princípio apenas as mulheres desprotegidas eram nomeadas, mas a partir de um determinado momento, a escalada de loucura ficou descontrolada, atingindo qualquer pessoa, quer seja mulher ou homem, no entanto, é curioso verificar que, de todos os acusados, pelo menos aqueles que foram executados, todos eles tinham um factor comum com as suas acusadoras…
LIVRO
Ann Rinaldi, escritora norte-americana, efectuou um brilhante trabalho de investigação para tentar recriar todo aquele ambiente e cenário de Salém de 1692.
E é brilhante essa recriação.
De todos os personagens criados, apenas dois ou três são fictícios e todos eles sem expressão na história.
O personagem central é Susanna English, filha mais nova de Philip English, homem rico e importante de Salém, que não vivia propriamente em Salém Village, mas sim nos arredores, numa casa grande, luxuosa e cheia de criados.
É esta a personagem que nos vai narrar o que aconteceu naquele estranho ano. Como começaram as acusações, o que estava por detrás dessas acusações, estariam essas crianças realmente possuídas ou tudo não passou de uma invenção?
Assente em dados históricos rigorosamente investigados e verídicos, Rinaldi consegue transmitir-nos muitas das percepções e do clima da altura, sendo fácil perceber a enorme tensão social e religiosa que devastava aquela comunidade.
Pessoalmente, gostei imenso do livro e foi também uma agradável surpresa.
Isso porque o tema nunca me havia despertado o interesse e depois porque o próprio livro é curto e muito fácil de ler. Pensei assim que a história seria muito abreviada, porém está lá tudo, inclusivamente as últimas páginas são notas da escritora a fundamentar o romance.
Mais do que um simples romance histórico, este livro é um manual sobre a onda de intolerância e fanatismo religioso que conduziram a uma autêntica caça às bruxas em 1692 em Salém.
Quem se interessar pelo tema, e embora existam alguns livros que analisam o caso, este ”Processo das Bruxas de Salém”, revela-se um instrumento útil e simples sobre o caso e os interesses ou questões que estiveram por detrás dessas terríveis acusações.
3 comentários:
Muito interessado no livro. A história é super interessante, já vi o filme e gostei. Gosto de História, e este livro também é um bom mistério... Para mim, um dos livros a comprar, intolerância e fanatismo religioso tornam um facto interessante!
Sim, a história é deveras interessante ainda por mais porque é verídica.
Bom dia, não encontramos o seu mail no site, por isso entramos em contacto por aqui.
Depois de ter visto o seu blogue venho convidá-lo para colaborar na revista Atol. Vimos por isso pedir autorização
para termos a liberdade de publicar artigos seus na nossa revista. Estes seriam
devidamente creditados com o seu nome e, se pretender, com uma referência ao seu site.
A Atol ( www.atolmag.com ) é uma revista multi-temática bimestral, criada pelo estúdio
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Esta revista está à procura de colaboradores para dinamizarem este espaço ao nível
da escrita.
Trata-se de um projecto inovador em todo o seu aspecto formal, permitindo o acesso
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da Audiozine, segundo uma elaboração cuidada e ricamente ambiental dos artigos da
revista, explorando da melhor forma o mundo audível, como se de cores e formas se
tratasse.
Neste momento encontra-se online apenas a versão demonstrativa designada
"Incubação" na qual se encontram apenas alguns artigos.
Nesta fase o projecto não é remunerado, devido à falta de apoios, mas à medida que
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Tiago Cartageno
www.atolmag.com
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