Já o
referi por diversas vezes que li todos os romances de José Rodrigues dos Santos
e que, a sua maioria, me agradou.
Independentemente
da qualidade literária dos seus livros, isso é outra história, o certo é que o
homem vende que se farta, vende mais do que qualquer outro autor português e
inclusive é já nº 1 no Top da Fnac em França, logo a questão que se coloca é:
porquê?
Será
que os seus livros são assim tão bons ao ponto de baterem as obras dos maiores
vultos literários da actualidade?
Será
que os milhares de leitores que adquirem os seus livros são assim tão iletrados
que só gostam de maus livros ou só adquirem um livro por ano, precisamente o
dele?
Ou
será que o autor sabe aproveitar o “momento” e, com uma receita tipo, consegue
escrever livros onde toca em assuntos melindrosos que interessam ao comum dos
mortais?
Mesmo
que a resposta não esteja numa destas três questões, o certo é que aprecio os
seus livros, pese embora não lhe observar qualquer
qualidade literária, aliás, há algo que registo desde logo, os seus livros conseguem, a esse
nível, piorar de livro para livro.
Eu
aprecio porquê?
Simplesmente
porque, quer os da série “Noronha”, quer os outros, têm a capacidade de me
informar, de me transmitir informações reais misturadas com uma história de
cordel mas que, resulta quer se queira, quer não. Quanto a mim é aí que reside
o principal interesse dos livros. Há outro interesse, mas esse guardo-o para
mim pois é algo que me entretenho a analisar.
Nesta
sua última obra, “A Mão de Deus”, JRS volta ao seu alter-ego, Tomás Noronha,
numa nova aventura em busca da verdade. E a receita é a mesmíssima das outras
aventuras: um vilão que é uma alta figura da sociedade, os seus jagunços que
passam o livro a correr atrás de Tomás, uma moçoila jeitosa que acompanha Tomás
na aventura (e não só…) e, obviamente, as habituais situações complicadas que o
nosso herói se consegue sempre safar com as habituais piadolas com pouca piada.
Claro
que muitos acham este típico trama algo de irritante e muito rebuscado, tipo
Dan Brown, o que de facto é, no entanto a principal diferença e aquela que me
faz continuar a ler os livros de JRS é que enquanto em Dan Brown as teorias são
pura especulação e ficção, nos livros de JRS é precisamente o contrário: tudo é
real e, se duvidam, constatem das acusações que lhe vão fazendo quando os
livros dele saem e vejam se depois, quem acusa, apresenta provas. Não, acabam
por se calar.
Tomás
Noronha vê-se assim no meio de mais um imbróglio e, desta vez a braços com a
descoberta de um objecto que poderá expor ao mundo os meandros da alta política
e os principais obreiros da crise mundial que actualmente sentimos, sobretudo
na Europa.
E é
dessa forma que o autor vai expondo as diversas facetas de uma crise construída
com reais objectivos e que tem a sua explicação em diversos factores com pontos
de união entre si.
Chegamos
a conclusões terríveis assim como é espantoso perceber como se fazem certos
negócios que visam comprar submarinos desnecessários, TGV’s que vão servir para nada e
Aeroportos que apenas procuram encher os bolsos de alguns em prejuízo dos
contribuinte. Uma teia gigantesca de corrupção com rostos bem conhecidos do
presente e do passado, pois que ninguém se iluda, a crise não nasceu ontem, vem
sendo criada e alimentada à muitos anos e com os resultados pretendidos.
E é
aqui que reside o principal interesse desta obra. Se pretende continuar a
seguir as vertiginosas aventuras dos gnomos, bruxas e afins mitológicos ou se busca um livro
muito bem escrito que o delicie com as suas descrições literárias, então nem
pegue neste. Agora, se se interessa pelo presente, se tem curiosidade em saber
como a crise nasceu, quem e porquê a criou e para que se destina, então avance
sem medos, pois de certo ficará melhor informado do que a grande maioria das pessoa e sentirá, pelo menos, algum receio pelo futuro que nos
espera, isso se não emigrar para bem longe.
6 comentários:
Até agora só li o Códex 632 mas é exactamente isso que dizes, informação algo credível, que procuro nos livros dele. Daí que só o Códex e este me tenham suscitado mais curiosidade (os outros temas sobre os quais tem escrito não me suscitam tanto a atenção) na série dedicada a Tomás Noronha, já que os seus romances históricos parecem melhor conseguidos pelo que vou lendo ou me vão dizendo quem já os leu.
Olá White!
Quanto a mim o Codex é o melhor livro da série, sobretudo porque aborda uma temática e uma época que me fascinam e porque, enquanto primeiro, se fecha os olhos à ingenuidade do autor e do personagem.
Eu confesso que, até agora, as temáticas dos livros de JRS sempre me atrairam e sempre saí dos livros melhor informado e com uma outra perspectiva.
Em relação aos romances históricos, o mesmo, pese embora tenha adora a "Filha do Capitão" que, quanto a mim, é um dos grandes livros da literatura portuguesa. Os restantes gostei, mas nunca chegaram à qualidade da "Filha do Capitão".
Li as primeiras seis obras do autor e gostei, principalmente por ter sempre essa veracidades dos factos. Muito embora tenha preferido os romances em que não entram o personagem Tomás Noronha.
Por me ter cansado do personagem é que deixei de ler as restantes obras(até confessei ao JRS, quando tive com ele na feira do livro em Lisboa).
Agora o tema atual deste "Mão do Diabo", está a suscitar-me bastante curiosidade e por isso já o pedi a uma amiga para mo emprestar.
Olá tonsdeazul.
Sim, concordo que o personagem de Tomás já aborrece, mas nota que enquanto alter-ego, o autor não a pode matar, pelo que, ou muito me engano, ou ainda vão surgir mais livros com o personagem.
Em todo o caso entendes o que quero dizer com "informação" e é isso a mais valia dos seus livros.
Aconselho então a leitura da presente obra, vais lá encontrar muita e boa informação de forma a entender os porquês e motivações de uma crise pensada, articulada e desenvolvida a dar o que está a dar.
Eu ainda não li, e posso estar a ser um pouco céptico, mas... Como posso eu acreditar que um professor catedrático com a experiência de Tomas Noronha (e que experiência) acaba no desemprego? Eu sei que as coisas não vão boas, mas como será possível uma personagem como esta ter de recorrer ao subsidio de desemprego? Ainda não sei quais as circunstancias que o levaram a isso claro, posso estar a ser demasiado precipitado... Ou talvez não tenha bem a noção da dimensão da crise. Mas são estas coisas que me irritam profundamente em Tomas Noronha. Apesar do seu historial, JRS insiste em apresenta-lo como uma pessoa ridiculamente vulgar, por vezes ignorante.
De qualquer forma, e uma questão de tempo ate pegar num livro dele, que afinal também gosto bastante de ler. Entretêm, como dizes vão cativando pelas informações que apresenta e acho que não deixa de estar bem escrito, o suficiente para não nos aborrecer verdadeiramente. "A Mao do Diabo" não será excepção!
Grande amigo Pedro!
Bom, em relação ao Noronha, enfim, ambos sabemos que o tipo é um cromo e este romance não é excepção.
Mas, enfim, o certo é que o homem cai mesmo no desemprego devido aos cortes da faculdade obrigar a dispensar todos os professores que estejam a contrato. Como ele está, tunga, lá vai ele para o Centro de Emprego. No entanto é apenas uma forma de JRS tar o pontapé de saída sobre o tema, pois, ao longo da história, esse pormenor pouco ou nada é referido.
Mas pronto.
Agora em relação ao presente livro, gostei pelas razões que aponto e será sempre por essas razões que continuarei a ler os seus livros, porque em relação à qualidade literária... estamos conversados.
Abraço!
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