Se
há uns meses me falassem de Imran Ahmad eu iria com certeza responder: “Quem é
esse?”. Se me dissessem que o livro auto-biográfico “O Perfeito Cavalheiro” é
uma obra notável, muitíssimo bem escrito e que demonstra não só um humor
fabuloso como, principalmente, o quanto a religião e a cultura pode influenciar
a nossa identidade e a forma como a nossa perspectiva do mundo pode ser tão díspar,
eu diria: “hum… ver para crer”. Mas o certo é que esse alguém me estaria a
acenar com uma obra espantosa e que, provavelmente iria dar o benefício da
dúvida e me lançaria na sua leitura.
E é
isso que eu aqui quero transmitir.
Estamos
na presença de um dos melhores livros que li nos últimos tempos.
Com
um estilo original e de uma honestidade que, por vezes, roça a ingenuidade,
Imran Ahmad, paquistanês criado em Londres, narra-nos a sua vida desde que
nasceu até, sensivelmente, aos dias de hoje.
Pode
não parecer cativante, no entanto, neste relato, Imran choca-nos da forma como
coloca questões pertinentes: o racismo e a xenofobia, as diferenças religiosas
entre as várias religiões assim como as profundas diferenças culturais entre
povos tão diferentes como o inglês (europeu e cristão) e o paquistanês
(asiático e islâmico).
Mas
não se fica por aí. No seu percurso, Imran vai colocando em causa vários dos
dogmas religiosos (de todas as religiões), debatendo e questionando o papel dos
líderes e das crenças. Nesse sentido, revela uma enorme coragem, pois e por
diversas vezes coloca em causa o próprio islamismo não se recusando a tecer
críticas duras a essa religião e a forma como são os próprios lideres a criarem
a má imagem que o ocidente tem dela. Essas questões, que abordam também o
cristianismo, deve-se ao facto de ele ter sido criado no ocidente e de acordo
com a cultura ocidental. Ou seja, mesmo sendo islamita, Imran cresce num meio
cristão e é com essa cultura que aprende a pensar e a ver o mundo. Logo, tem
uma visão diferente daquela que é imposta nos países muçulmanos, uma visão de
fora e, sobretudo, liberdade de pensamento e de acção que se revela muito
importante na formação do seu intelecto.
Um
livro que adorei e que aconselho a todos. Muito bem escrito, cheio de humor e
que nos permite visualizar a sociedade britânica dos anos 70, 80 e 90, mas e
acima de tudo, as diferenças entre islão e cristão. Muito curiosas as
percepções e as conclusões.
2 comentários:
Fiquei interessada. Para usar uma expressão conhecida: "as melhores histórias escreve-as a vida". E é claro que capacidade autocrítica e humor são essenciais, nestes casos ;)
Sem dúvida!
Um livro que me surpreendeu pela posotiva. Um dos melhores.
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