Sou leitor
inveterado há muitos anos. Li centenas de livros, não sei precisar exactamente
quantos, mas poderia avançar com um número de 2.000 livros que, decerto, não
estaria a exagerar, aliás, efectuando um exercício simples à razão de 60
livros/ano a multiplicar por 30 anos (comecei a ler intensamente a partir dos 14, 15 anos), daria um valor de 1800, no entanto durante muitos anos li mais do que
60 livros por ano, porém desde há uns 4 anos que esta soma desceu para uns
míseros 15 livros/ano por razões que não importa agora escalpelizar.
Mas
a razão deste post é apenas divagar sobre uma questão quase metafisica que me
assalta constantemente, sobretudo quando navego pelas sinopses de novos
títulos, ou quando me desloco à biblioteca ou até quando navego por vários
blogues literários, questão essa que entroca muito num livro que estou agora a
ler, livro esse composto por uma série de entrevistas a um dos grandes escritores
da actualidade, que é: Como se considera um bom ou mau livro? Como nos
consideramos bons ou maus leitores?
Foi
sempre uma dúvida que se me colocou e penso que foi por isso que, até à data,
nunca me lancei na escrita a sério de um livro, pese embora já tenha vários
rascunhos na gaveta e muitas ideias na cabeça. Em todo o caso, sempre procurei
perceber o que é isso de ser um bom leitor, um bom escritor, um bom livro Vs. Tudo
mau.
Antes
dos 30 anos já tinha lido a maioria dos grandes clássicos da literatura a fim
de entender a estrutura das obras e qual o trajecto que os tinha levado aquele
patamar.
Debalde!
A verdade
é que gostei imenso de muitos desses clássicos, no entanto outros houve que me
aborreceram de morte mas que compreendi que ainda não tinha aquela maturidade
para compreender o alcance da obra. No entanto li outros livros considerado
menores que gostei imenso e fiquei sempre sem perceber onde começa acaba a boa
literatura e se sou um bom ou mau leitor.
Até que
um dia, há uns anos, resolvi acabar com isso e comecei a considerar livros como
livros e ponto final, sem considerar que haja livros e escritores que sejam
melhores ou piores. Há apenas livros e pessoas que os escrevem, desde que
alguém os leia, então tudo bem. Se é se me faço entender!
Desde
essa altura que deixei de dar importância aquelas considerações de determinada
obra ou autor ser mau, o que me veio trazer alguma tranquilidade em simultâneo
que ocasionou um fenómeno interessante: deixei de ler tanto e compreendi que
aquela ânsia que tinha era derivado ao facto de querer compreender ou encontrar
resposta à minha questão. Porém há medida que o tempo foi passando também
compreendi algo que já havia lido em vários autores: para ser escritor é
necessário, acima de tudo, ler muito! Pois é!
No entanto
onde começa a acaba a razão?
Vários
autores afirmam que escrevem 10, 12 horas/dia e que têm, desde o início, uma
espécie de roteiro com principio, meio e fim, com notas sobre as suas
personagens onde as mesmas estão descritas ao pormenor, com estudos exaustivos
dos lugares retratados e tudo o mais.
Outros
autores, e vários dos quais que ganharam o Nobel, sempre disseram que escreviam
2, 3 horas/dia, 1 ou 2 folhas A4/dia e que não tinham roteiro. Limitavam-se a
sentar e era a própria história que se construía por ela, ou seja, a história
ia nascendo à medida que escreviam.
Outros
autores afirmam que escrevem de uma forma fácil e conseguem escrever 20 páginas
por dia, o que até acredito porque são escritores que lançam 1 livro por ano
com mais de 700 páginas.
E há
autores que afirma que os seus livros, todos eles com cerca de 300 páginas,
levaram uns 5 anos (cada) a ser escritos.
Por isso
como ficamos?
Não
ficamos!
Não
há bons e maus escritores assim como não há bons e maus livros!
E a
questão mantém-se inalterada na minha mente!
3 comentários:
Uma professora de literatura que eu tive costumava dizer que um livro bom é aquele que põe pelo menos uma pessoa a ler. E só por isso já vale a pena.
Tenho cá para mim que devias escrever esse livro e pronto. Eu provavelmente lia ;)
Olá Anabela!
Precisamente, pese embora haja por aí muito má literatura... Em todo o caso eu costumo dizer que acima de tudo um bom livro é aquele que entretém, pois é sobretudo isso que procuramos num livro, entretenimento. Mas todos nós temos aquelas "obras" que consideramos melhores que outras, certo? Então, tem de existir boa e má literatura e bons e maus escritores.
É um dilema tremendo que me assalta há anos mas que, confesso, atirei para trás das costas há alguns anos, até porque vários autores considerados génios, simplesmente me aborrecem de morte. Queres um exemplo? Experimenta ler o Ulisses de Joyce... enfim, pode ser que consigas chegar à página 20...
Sobre escrever, curioso o que dizes porque é precisamente o que o António Lobo Antunes afirma. Ele diz que é o livro que nos diz quando tem de ser escrito e quando isso suceder, é algo que não conseguimos impedir. Eu continuo à espera desse chamamento. :) Mas, o certo é que considero que o que escrevi é mau. :)
Claro, mas no fim o que conta sempre é o gosto pessoal de cada leitor. Embora concorde com a parte haver muito má literatura...
Sobre "o escrever", já leste o Confissões de um jovem escritor de Umberto Eco? É muito bom.
"A grande magia" também é sobre o tema e também gostei muito, embora não saiba se é muito ao teu gosto. Falei dele aqui, se quiseres espreitar https://livrosesaltos.wordpress.com/2017/12/30/a-grande-magia-elizabeth-gilbert/
Mau porquê? Nós nunca somos imparciais quando se fala do que escrevemos, ninguém é.
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