José Luís Peixoto é um escritor do qual nutro uma enorme simpatia, pese embora não seja um escritor cujas obras anseio ler, pois, as que li até à data, revelaram-se sempre leituras difíceis, embora muito prazerosas.
Dessa forma, na minha opinião, JLP “exige”, dos seus leitores, uma leitura apurada e atenta, pois os seus romances não são meros romances de entretenimento, revelando-se sim, romances onde as diversas realidades se fundem, onde a ficção se funde com a realidade num puzzle que se vai construindo a pouco e pouco, através de diversos jogos, onde a linguagem ocupa, sempre, lugar primeiro.
Neste seu último romance, o autor propõem-nos uma organização estrutural onde o cruzamento entre o realismo e a ficção se apoiam no autor e em José Saramago.
Dois Josés, étimos narrativos que se encontram e onde, um deles, se propõe a escrever a biografia do outro que, aos poucos, se vai revelando uma autobiografia.
È neste jogo, espécie efetiva de puzzle filosófico, que personagens reais se misturam com personagens ficticias retirados da obra de Saramago. Pilar, Bartolomeu de Gusmão, Lídia e os dois Josés, compõem assim um quinteto que chega a ser surrealista face às voltas e ao rumo que o romance toma.
E, à medida que a narrativa se vai desenvolvendo, eis que um segredo nos é atirado de chofre à cara, segredo esse que, na minha opinião, é subentendido a meio do livro face à interligação das personagens, porém, e não querendo desvendar qual o segredo, torna-se difícil compreender quais os objectivos de todos os pormenores, pelo menos torna-se difícil saber se estamos a interpretar corretamente.
Em suma, é um livro que exige a melhor atenção do leitor. Não é um daqueles livros para consumo imediato. É um livro que requer atenção. Quero crer que estamos na presença de um dos grandes livros da literatura portuguesa.
2 comentários:
Só li "Nenhum Olhar", e não gostei muito.
Achei daquelas prosas poéticas com demasiado palavreado bonito mas pouco sumo, sem ir a lado nenhum interessante. Talvez hoje em dia prefira livros mais directos. Toda a ideia da vida ser cíclica, de ser impossível escapar ao sofrimento e esse é o sentido da vida, até é uma ideia interessante mas não gostei nada da execução. Um livro muito sofredor e deprimente, mas eu até aguentava isso se não fosse aquele palavreado todo que não diz nada...
Mas a verdade é que quase todos gostam do livro. Talvez precise de reler, ou apenas aceitar que é uma opinião muito pessoal.
Dizem que a sua escrita tem evoluído com o tempo e hoje dispensa todo aquele palavreado poético. Talvez um dia comprove isso com este Autobiografia.
Abraço!
Viva Pedro!
Já li alguns livros de Peixoto e, em todos eles, senti prazer na leitura. No entanto admito que não é um autor fácil, cujos enredos sejam lineares. Nada disso, ele "puxa" pelo leitor e é necessário ter alguma atenção e até alguma bagagem para entender todo o novelo que ele vai desfiando.
Abraço!
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