terça-feira, 10 de junho de 2008

Oliver Twist - Charles Dickens

Charles Dickens foi um dos grandes escritores do Séc. XIX e, na minha opinião, um dos mais talentosos escritores de todos os tempos.

Sofrendo na pele as agruras da vida na infância, Dickens cresceu sensível aos problemas da sociedade inglesa, sobretudo sensível com a pobreza e opressão que essa sociedade aplicava aqueles que tinham tido o azar de nascer pobres, ao ostracismo que esses pobres estavam sujeitos, sendo vistos como lixo, como animais.

Escritor diligente , Dickens, que começou a trabalhar numa fábrica aos 12 anos, consegue por mérito próprio aprender estenografia, profissão essa que o leva a entrar no mundo do jornalismo, sendo aí que toma o gosto pela escrita.

Nunca esquecendo as suas raízes e as dificuldades da infância, inclusive sempre teve a preocupação de editar as suas obras em folhetins a preços muito baixos (algumas dessas edições foram pagas pelo seu próprio bolso), mas nunca esquecendo essas dificuldades de infância, Dickens empreende a escrita de uma série de romances marcadamente sociais, romances onde a crítica à hipocrisia da sociedade é constante e facilmente perceptível e onde, em todas as suas histórias, descreve o modo de vida difícil dessa gente pobre e as fracas condições de vida a que essas pessoas estavam sujeitas.

No entanto e mais do que essas descrições, Dickens sempre tomou como “objecto” principal as crianças, eram elas que mais tocavam o coração de Dickens, pois são elas que contém em si, a nobreza, humildade e a inocência.

E são quase sempre as crianças as heroínas dos seus livros. A pobreza, misérias, maus tratos, morte e infelicidade.

Oliver Twist”, escrito em 1837, foi um dos primeiros livros de Dickens e narra a história de uma criança que nasce num orfanato e aí é criado até aos 10 anos de idade, sempre sujeito à fome e maus tratos.

Essa fase da vida de Oliver é descrito de uma forma nua e crua. Dickens pretende, e consegue, evidenciar as más condições dos orfanatos ingleses, sobretudo a forma sobre-humana como as crianças órfãs eram tratadas.

Quando Oliver tem 10 anos, é vendido a um cangalheiro que o leva para a sua oficina de modo a aprender essa mórbida profissão. No entanto e como o menino não tinha ninguém no mundo, os maus tratos continuam, agora, para além de levar porrada e de ser injuriado, é alimentado com a comida que os cães declinam.

Farto de tanto sofrimento, Oliver, que tem um coração bondoso e um carácter nobre, empreende uma fuga a pé até Londre, cidade onde conhece um outro menino da sua idade que o faz entrar no mundo do crime quando o apresenta a Fagin, o Judeu, homem espúrio que comanda um bando de crianças que roubam para ele.

Começa então aí um novo capítulo da vida de Oliver que o leva a conhecer o mundo do crime e, também, o lado bom do ser humano...

Oliver Twist” é uma história belíssima sobre a capacidade do ser humano em suprimir as dificuldades da vida, no entanto é também uma história que demonstra as piores facetas do ser mesmo e o quão maléfico pode ser feito para prejudicar o próximo.

Por outro lado, e talvez porque esta foi uma obra escrita na fase inicial da sua carreira, a história, embora demonstre uma grande consistência e solidez, falha nos últimos capítulos no aspecto estrutural, ou seja, existem demasiadas coincidência que tiram alguma da coerência, tudo encaixa muito facilmente. Porém é necessário não esquecer que este livro foi escrito em 1837 e destinava-se a esse tal público oprimido, um público que certamente se revia na personagem de Oliver e que, certamente, lhe agradou imenso o fim e a forma como é construído.

Dickens foi um génio da literatura. Para além de escrever muito bem, tem uma forma de descrever paisagens e situações que roça a poesia e, mais importante, é exímio na forma como transmite sensações, pois e num mesmo parágrafo, é capaz de nos comover como, de seguida, nos fazer rir.

Um clássico riquíssimo que deve ser saboreado.












8 comentários:

Célia disse...

Sempre tive muita vontade de ler o Oliver Twist mas até ao presente não se proporcionou... Espero colmatar essa falha o quanto antes!

Pedro disse...

Já espero comprar Oliver Twist há muito tempo... Assim como outras obras do autor, que me fascina imenso. Acredito que vale a pena, a ler vamos!

Livros em 2ª Mão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
NLivros disse...

Viva Canochinha.

Oliver Twist é, justamente, um dos grandes clássicos da literatura e um livro que não só nos dá a conhecer o modo de vida dos pobres, e também ricos, da Inglaterra do séc. XIX, como também é um livro que nos fornece um estudo da psique humana e até onde é capaz de ir o ser humano quando confrontado com dificuldades.

NLivros disse...

Olá Pedro.

Pessoalmente Dickens é um dos autores que mais aprecio e aquele que mais me ensinou acerca do modo de vida do séc. XIX e das mentalidades.

Para além de me interessar o séx. XIX, acho que Dickens escrevia muitíssimo bem, pois consegue transmitir muitas sensações e é riquíssimo nas suas análises ao fundo do ser humano.

NLivros disse...

Também já li David Copperfield, sendo também um livro muito bom e que aconselho.

Em Copperfield também o objecto de análise são as crianças e a sociedade que maltrata aqueles que nasceram sem sorte. Mas é diferente deste Oliver Twist em vários aspectos.

Aliás, o interessante na obra de Dickens é que ele analisava em todas as suas obras vários factos, sendo que alguns são transversais nas suas obras, construindo um género de puzzle sobre o ser humano, quer no seu aspecto social, cultural e psicológico.

Livros em 2ª Mão disse...

Dickens anda a rondar-me há algum tempo... Comprei o David Copperfield recentemente, mas é um livro muito pouco prático para andar na bolsa diariamente, portanto estou à espera de uma fase mais tranquila para o ler de fio a pavio.
Agora com o teu post do Oliver, também fiquei com vontade de o ler. A ver se com o tempo vou juntando/lendo a obra deste autor.

João Filipe Costa disse...

Sempre fiquei fascinado com Charles Dickens, mas ainda não consegui arranjar nenhuma das suas obras que queria! Em especial Oliver Twist e David Copperfield.
A ver se os arranjo, é uma falha imperdoável ainda não os ter lido.

Abraço