Fernando Namora nasceu em 1919, licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, tendo exercido nas regiões da Beira Baixa e Alentejo.
De estilo neo-realista, tem uma obra literária vasta, marcada, quase toda ela, por observações fiéis da realidade (naturalismo) e da sua experiência, e soube explorar algo que me fascina e que está ligado à corrente neo-realista: o indivíduo age conforme o meio que habita e as tradições intrínsecos a esse meio.
Publicado em 1949, este primeiro livro (Fernando Namora publicará um segundo livro em 1963) tem uma estrutura fragmentada (retalhos) onde o narrador e médico efectua um retracto social da primeira metade do séc. XX.
Sem sequência cronológica, uma espécie de contos isolados sem qualquer ligação entre si, estas histórias (verídicas), desenvolvem-se sempre de uma forma dramática em simultâneo irónica e por vezes até surpreendida, em torno da vida de um médico recem formado que se vê colocado numa aldeia no interior do Alentejo, habitado por pessoas desconfiadas e supersticiosas, crentes nas antigas mezinhas medievais e que viam no jovem doutor uma charlatão da cidade com ares de importante.
Sobressai em toda a obra uma espécie de cansaço e desilusão sobre a lorpice do povo e as dificuldades que ele sente em ser aceite e até mesmo a sua adaptação a uma dimensão diferente daquela que está habituado. Por vezes e isso sente-se nas suas palavras, parece que ainda se vive na era medieval e tudo o que é moderno está proibido de entrar. Fernando Namora é assim uma espécie de João Semana que se desloca de burro de terra em terra, socorrendo pessoas que só o chamam em última circunstância e, na maioria das vezes, quando nada há a fazer.
Pessoalmente o que me apaixonou foi a narração daquele Portugal que existia (e ainda existe) escondido, uma espécie de 5ª dimensão, perdido da civilização, onde se vivia de uma forma agreste, com honradez, mas agreste.
Uma grande obra da nossa literatura.
Classificação: 5
4 comentários:
5??
Mais um para a lista :D
Yap, um 5 e bem merecido.
Retalhos da vida de um médico descrevem um Portugal rural já desaparecido e ajuda a compreender-nos a forma de ser de um povo.
oi!!!! Lembram-se da filha do dr Pedro, a bébé, era eu!!!!! tinha 2 meses de idade e agoara ja tenho 30 !!!!
Olá Cláudia!
Fico contente com o teu comentário. Lembro vagamente, era muito pequeno quando a série deu, mas recordo-me vagamente do bébé.
Como entraste na série?
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