Que livro espectacular!
Livro curto (160 páginas), mas de enorme Qualidade. Arrisco mesmo a dizer que é um dos melhores livros que li este ano, senão mesmo o melhor.
Uma narrativa surpreendente, com uma linguagem simples e muito visual, começa por contar a história de uma jovem mulher que, após uma desilusão, recorre à ajuda de um terapeuta de vidas passadas, descobrindo que, há três mil anos foi uma das centenas de esposas do Rei Salomão. Encerrando-se sobre si mesma, resolve empreender a narração da sua passada vida e é, dessa forma, que conhecemos a sua fascinante aventura que a leva à primeira versão do Antigo Testamento.
Narrada sob o ponto de vista de uma mulher, a nossa heroína, que de tão feia se tornava grotesca, vê nas letras o seu escape para a sua infelicidade e, após casar com o rei Salomão, é incumbida pelo poderoso rei e esposo de empreender a escrita de uma obra que irá perdurar no tempo: o livro sagrado.
Embora o assunto seja algo delicado, o autor consegue criar uma narrativa credível mas impressionantemente irónica e mordaz, com laivos de erotismo, onde a linguagem vernácula abunda mas em que nunca nos sentimos incomodados.
Mas vai muito mais longe.
Não esquecendo que é um livro onde a mulher é personagem principal, o autor tece críticas à importância do aspecto visual em detrimento do intelecto, bem como a uma sociedade marcantemente machista e patriarcal que marca indelevelmente a religião ocidental. Sempre numa perspetiva feminina o que, confesso, me surpreendeu.
A sexualidade feminina também é realçada de uma forma, diria, sem filtros, divertida e descontraída.
Em suma, é uma obra exepcional que toca em vários assuntos, sempre de uma forma irónica, mordaz e muito divertida, mas que nunca choca, antes pelo contrário, leva-nos a dar grandes gargalhadas e a simpatia pela personagem vai em crescendo até ao epílogo.
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