terça-feira, 11 de junho de 2019

US (2019)


Escrito, produzido e dirigido por Jordan Peele, “US” (traduzido literalmente por NÓS), é um filme do género suspense/terror que vem na senda do primeiro filme de Jordan Peele, o nomeado para os Óscares, “Get Out”, filme que recebeu inúmeras opiniões favoráveis, dado a inteligência do argumento.

Como parte do elenco temos Lupita Nyong'o, Winston Duke e Elisabeth Moss, entre outros, “US” consegue-nos cativar logo desde o início, criando uma aura misteriosa e nebulosa, perspetivando acontecimentos estranhos que dão o mote ao filme.

Porém, à medida que o filme se vai desenrolando, é percetível, porque o realizador a isso nos habitou, que não se trata de um mero filme de terror e sim uma alegoria à sociedade norte-americana, com alusões a várias outras obras, realçando as profundas diferenças sociais entre a população, sobretudo entre a comunidade negra, simbolizados por aqueles que vivem na parte de baixo, no subsolo, e a classe alta, simbolizada por aqueles que vivem na parte de cima, pelos originais, e que vivem em liberdade.

E isso torna-se claro quando constatamos em dois pormenores:

O trocadilho com o título do filme: “Us” (NÓS) = United States.

E quem são os NÓS?

Isso é respondido pela dupla da personagem principal protagonizada por Lupita Nyong’o: Somos Americanos!



O filme, que possui algumas falhas e pontas soltas, que, na minha opinião, são produzidas de forma propositada a fim de parodiar os clichés dos filmes de terror, é extremamente inteligente, tanto no desenrolar dos acontecimentos, como igualmente nos diálogos, vai desfilando várias alusões a outras obras, como por exemplo, é clara a referência a “Alice no País das Maravilhas” e a toca do Coelho, pois note-se que uma das sequência finais é, na prática, retirada das primeiras páginas da obra de Lewis Carroll. 

Assim como fica subentendido a Alegoria da Caverna de Platão. Nos diálogos, afirmava Sócrates – “Agora, imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas”.

Longe de ser um daqueles típicos filmes de terror, cheio de tentativas de sustos e muito sangue, aqui, num ritmo propositadamente lento, o realizador consegue agarrar o público, erguendo um clima de tensão que se vai construindo através de um conjunto de teias e labirintos que, no fim, se vão entrelaçar.

E é nos pormenores que a inteligência da realização se torna notável. Para além do já referido nos parágrafos anteriores, existem alusões a trechos bíblicos que nos vão dando pistas sem que nos apercebamos, para além disso, há outros sinais que julgamos irrelevantes, mas que se revelam fundamentais.

Em suma, um excelente filme. Mordaz, irónico e corrosivo, que demonstra a profunda desigualdade que grassa, não apenas na sociedade norte-americana, como igualmente em qualquer outra parte do globo.

3 comentários:

Anabela Risso disse...

Fiquei curiosa!

NLivros disse...

Eu penso que vais gostar.
Mas nota que não é um daqueles filmes de terror cheio de sangue, etc.
Aqui é a inteligência dos pormenores que é valor acrescentado, criando um clima de tensão e de situações verdadeiramente surrealistas mas que representam uma imensa alegoria.

Anabela Risso disse...

Também me parece que vou! Acho que já tenho filme para este fim de semana ;)